No dia 19 de janeiro p.p. — a dois meses da viagem de S.S. Bento XVI à ilha-prisão de Cuba e 24 horas antes da chegada de uma delegação vaticana de alto nível para ultimar detalhes da visita papal — o regime cubano, à maneira de uma gargalhada macabra, deixava morrer o jovem preso político Wilman Villar Mendoza [foto ao lado]. Ele era pai das meninas Geormaris e Wilmari, de 7 e 5 anos. Uma morte cruel que sua esposa, Maritza Pelegrino, não duvidou em qualificar de “assassinato”.
Tendo sido condenado a prisão em 24 de novembro de 2011, Wilman decidiu, num ato de desespero, protestar diante do mundo contra a sua condenação — e, sobretudo, contra a situação de escravidão em que jaz seu querido povo cubano — com a única coisa que julgou ter em mãos: uma greve de fome, cujo objetivo não era o de atentar contra a sua própria vida, mas de usá-la, em seu extremo abandono e aflição no fundo das masmorras castristas, como um modo muito arriscado de protesto.
Ele foi isolado e deixado nu numa cela úmida e fria, contraindo pneumonia. Seus verdugos — como já haviam feito com o também preso político e dirigente estudantil Pedro Luis Boitel, por ordens do próprio Fidel Castro, em 1972, e com Orlando Zapata Tamayo em 2010 — não lhe deram a devida atenção médica, nem água para ingerir.
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Em Cuba, as Damas de Branco, das quais fazem parte a viúva de Wilman e opositoras da estatura de Martha Beatriz Roque Cabello, foram as primeiras a denunciar ao mundo, no dia 24 de novembro de 2011, a arbitrária prisão de Wilman. Foram também as primeiras a condenar a atitude criminosa do regime comunista, consumada em 19 de janeiro, tendo sido secundadas pelos governos da Espanha, Estados Unidos e Chile.
Elas receberam a solidariedade emocionante de cubanos da ilha, bem como de desterrados e de amantes da dignidade humana, da liberdade e do direito no mundo inteiro. A fundadora das Damas de Branco, Laura Pollán, morreu no ano passado num hospital, por falta de assistência médica.
Em sentido contrário, os silêncios mais clamorosos, que me conste, foram os da Secretaria de Estado da Santa Sé, do Cardeal de Havana, D. Jaime Lucas Ortega y Alamino, e da Conferência Episcopal Cubana.
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Eles tiveram muito tempo para exigir uma assistência médica adequada e deixar claro aos carcereiros que estes já não mais podiam continuar agindo impunemente. Mas, até hoje, que me conste, eles permanecem num inexplicável silêncio.
Será que tais Pastores não conhecem o opróbrio e a injustiça de que são vítimas os presos políticos em Cuba, ou conhecem e permanecem indiferentes? Será que não estão a par da violação institucionalizada de todos e de cada um dos Mandamentos da Lei de Deus, ou estão e também são indiferentes a esse fato marcante? Não ouvem esses gritos de desespero e angústia que brotam dos cárceres cubanos? Esse drama inimaginável nada lhes fala e não lhes sugere outra atitude a não ser esse pesado silêncio?
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Também de modo infrutífero tentei encontrar ao menos uma referência noticiosa à morte de Wilman no “Osservatore Romano”, na Rádio Vaticano, nas duas maiores agências católicas — Zenit e ACI —, no site web da Conferência Episcopal Cubana, nos sites web Espacio Laical y Palabra Nueva, da Arquidiocese de Havana. Quanto eu desejaria que os fatos me desmentissem!
Esse silêncio de Pastores chamados a dar a vida pelas suas ovelhas produz tanto ou mais sofrimento do que o próprio assassinato de um jovem membro do rebanho.
Silêncio mais pesado pelo fato de ter sido clamorosa a insistência pública de SS. Bento XVI e da Santa Sé em prol da defesa dos direitos da pessoa humana.
Silêncio enigmático e desconcertante da diplomacia vaticana do qual, segundo destacados jornalistas, uma das raízes históricas parece estar no próprio silêncio do Concílio Vaticano II em relação ao comunismo, ao conceder aos lobos total liberdade para dizimar o rebanho em Cuba, nos países do Leste europeu, na Rússia, na China, no Vietnã etc.
O regime castrista, aparentemente tão seguro de sua impunidade, nem sequer teve o trabalho de fuzilar Wilman, Boitel e Orlando. Deixou-os morrer de um modo como não se faz sequer com animais selvagens.
O desamparo em que ficaram sua jovem viúva e suas duas filhinhas [foto] doentes — uma epiléptica e a outra com sérios problemas respiratórios — é um reflexo dilacerante do atual drama do povo cubano.
Segundo versão recebida de Cuba pelo meu companheiro de presídio e hoje brilhante jornalista Carlos Alberto Montaner, as duas crianças não entendem o que aconteceu com o seu querido pai. Como a família tem influência cristã, a mãe lhes explicou que ele foi para o Céu. “E onde está o Céu, mamãe?” — perguntaram. “Muito longe de Cuba. Muito longe” — respondeu a jovem viúva.
É aos artífices, aos propulsores e aos mantenedores do Inferno cubano — tão, mas tão longe do Céu — a quem o silêncio vaticano favorece em primeiro lugar.
Sobre a viagem papal à ilha-prisão, escrevi no dia 1º. de janeiro de 2011 o artigo “A viagem de Bento XVI a Cuba: esperanças e preocupações”, publicado dois dias depois no “Diário Las Américas” de Miami e difundido por centenas de blogs, sites web e redes sociais de cubanos desterrados e defensores da liberdade do mundo inteiro.
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Armando Valladares – Escritor, pintor e poeta, padeceu durante 22 anos nos cárceres políticos de Cuba. É autor do best-seller Contra toda a esperança, onde narra o horror das prisões castristas. Foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush. Recebeu a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado. Escreveu numerosos artigos sobre a colaboração eclesiástica com o comunismo cubano e sobre a Ostpolitik vaticana em relação a Cuba.
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