segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Encolhimento da população do Brasil vai atrás do Japão corroido física e psíquicamente

Casas abandonadas aumentam em número.
Casas abandonadas aumentam em número.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O Brasil, infelizmente, vem percorrendo a mesma estrada rumo ao abismo populacional que empreendeu o Japão, embora ainda esteja mais distante do desastre nipônico.

O número de nascimentos registrados no estado de São Paulo vem caindo há anos, informou “OESP”.

Em 2018, ocorreram 605.630 nascimentos no Estado, quase 166 mil menos do que em 1982, de acordo com a mais recente estatística da Fundação Seade, malgrado o enorme aumento da população paulistana.

A queda em pouco menos de quatro décadas foi de 21,5%.

O número médio de filhos por mulher passou de 2,08 em 2000 para 1,70 em 2018.

Shinobu Ogura auxilia no fabrico dos 'habitantes' da cidade que morre
Shinobu Ogura auxilia no fabrico dos 'habitantes' da cidade que morre
As mudanças têm também grandes consequências sociais, econômicas e fiscais.

Com o aumento auspicioso da longevidade – de 54,2 para 76,4 anos em relação a 1950 – começam a tomar corpo os desequilíbrios ora registrados no Japão, de insuficiência de trabalhadores ativos para sustentar os aposentados.

No Japão, em 2005 a população japonesa diminuiu pela primeira vez desde 1899, superando as piores expectativas.

Naquele ano, a redução foi de 10 mil habitantes, segundo cômputo governamental, com uma taxa de natalidade 1,29 filho por mulher, quase a metade do mínimo para repor as mortes, noticiou a “Folha de S. Paulo”.

As projeções anteriores previam que o Japão tivesse 27 milhões a menos em 2050, em parte pelo envelhecimento da população, e o governo previa que 25% dos japoneses teriam 65 anos ou mais em 2014.

Mas os índices pioraram para além do previsto e o governo vem lutando para manter a população acima de 100 milhões recorrendo à imigração, informou a Deutsche Welle, rádio oficial alemã.

O último censo apontou uma perda de quase 1(um) milhão de habitantes em apenas cinco anos.

A capital, Tóquio cresceu 2,7%, para 13,5 milhões ou 10,6% da população do país, sofrendo os males de uma cidade superpovoada.

A estimativa do Instituto Nacional de Pesquisa Populacional é de que o percentual de aposentados com 65 anos ou mais constitua 40% da população japonesa até 2060, ameaçando a força de trabalho necessária para garantir à expansão econômica do país, outrora famosa.

Sem um aumento significativo de nascimentos, a população do país cairá para 108 milhões até 2050 e para 87 milhões até 2060, acrescentaram as fontes citadas pela Deutsche Welle.

Em 2019, o Ministério do Bem-Estar estimou que o Japão tenha ficado com 512 mil pessoas a menos.

A natalidade caiu ao nível mais baixo desde 1874, quando, paradoxalmente a população era cerca de 70% menor que a atual, noticiou “O Estado de S.Paulo”.

As mortes, majoritariamente por idade, superaram as baixas do fim da Segunda Guerra Mundial, quando o país fora derrotado pelos EUA com bombardeios atômicos.

Boneca 'camponesa' dá 'vida' à paisagem rural de Nagoro.
Boneca 'camponesa' dá 'vida' à paisagem rural de Nagoro.
Portanto, menos jovens passam a trabalhar, e os aposentados deixam vagas não preenchidas, pondo em xeque a vitalidade econômica e a estabilidade social daquele país.

O Japão não é exceção, o recorde da perda de natalidade é da Coreia do Sul.

E muitos outros países, incluindo vários da União Europeia, China e Estados Unidos já pensam em problemas de despovoamento e migrações de grandes massas de estrangeiros no futuro.

Vilas japonesas inteiras estão desaparecendo.

Os incentivos aos nascimentos se mostram insuficientes e o casamento está em declínio.

O Japão tenta multiplicar os robôs no trabalho e aumentar os imigrantes.

Exemplo patético foi narrado pelo “The New York Times” no vilarejo de Nagoro.

Lá, as últimas crianças nasceram há 18 anos e a escola primária foi fechada em 2012, por falta de alunos. Não há mais lojas.

No desespero do vazio, Tsukimi Ayano fez 350 bonecas – suas “amigas” – e as instalou em locais públicos para fingir animação.

Bonecos de alunos brincando na escola para preencher o vazio.
Bonecos de alunos brincando na escola para preencher o vazio.
Bonecas do tamanho de crianças disputam uma corrida, brincam no balanço e arremessam bolas. Uma “senhora” cuida de um túmulo na beira da estrada. “Operários da construção” fumam cigarros. Na escola, há “alunos” sentados em carteiras, “camponeses” cuidam do campo, e muitos outros à beira da estrada ficam olhando...

Quando Tsukimi era criança, moravam 300 pessoas em Nagoro. Mesmo com subsídios agora o local não atrai novos moradores.

O mais incrível é que viajantes param para pedir informações às bonecas. “Se fossem humanos de verdade”, disse Kayoko Motokawa, 67, “esse seria um lugar verdadeiramente feliz”.



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Amor pela música barroca no Chaco e Amazônia exorciza tribalismo comunista

Rumo ao ensaio de música barroca na Amazônia.
Rumo ao ensaio de música barroca na Amazônia.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Nas ruas e igrejas de San Ignacio, na região boliviana de Chiquitania na transição entre o Chaco e a Amazônia, a 200 kms do Brasil, soa um rumoroso desmentido à demagogia comuno-tribalista que eclodiu no Sínodo Pan-amazônico de 2018.

A população toda ela é descendente dos “povos originários” guaranis.

O comuno-tribalismo de missionários adeptos à “teologia da libertação” e ONGs herdeiras do utopismo comunista quereriam jogá-los de volta ao primitivismo precolombino.

Mas o que a população gosta é de Bach, Vivaldi e da música barroca. E a executa com tanta habilidade, bom gosto e paixão que deixou pasmo ao jornalista do “Le Figaro Magazine” de Paris que foi até essa região chaco-amazônica para fazer ampla reportagem. (dezembro de 2019, págs. 67 e ss.)

Félix, de 17 anos, apaixonado pela música barroca, mostrou à jornalista Manon Quérouil-Bruneel, o Stradivarius que ganhou como melhor aluno de orquestra municipal.

E com os olhos brilhando de emoção começou a executar uma fuga de Beethoven que os prédios coloniais da antiga missão jesuítica ecoavam naquela selvática região.

“Na Europa, os jovens acham isto cacete”, explicou o descendente de indígena à europeia. “É engraçado constatar que hoje são descendentes de índios que perpetuam esta herança longínqua”.

Nas restauradas capelas missionárias, descendentes dos 'povos originários', no caso guaranis, ensinam admiração pela música barroca.
Nas restauradas capelas missionárias, descendentes dos 'povos originários',
no caso guaranis, ensinam admiração pela música barroca.
Tudo começou em 1691 quando os missionários jesuítas fundaram a primeira “reducción” segundo o famoso – e injustamente denegrido – regime disciplinar dos missionários de Santo Inácio que converteu e civilizou imensas áreas de América.

Vários chefes tribais guaranis decidiram se tornar suseranos obedientes aos jesuítas que lhes ensinavam a doutrina do Evangelho.

E muito especialmente a música barroca. Era algo que eles não conheciam, mas logo admiraram, fizeram sua e passaram a executar com uma maestria surpreendente, nos instrumentos e no canto.

Essa passou a ser a “língua comum” de tribos e evangelizadores que se aprendia junto com a leitura, a escritura e o catecismo.

E não foi só Vivaldi e Rameau, entre outros, que passaram a ser ouvidos nas florestas. Eles próprios, guaranis, começaram a compor partituras de um talento inegável, com o selo europeu, mas com o charme do novo que nasce para a civilização.

Intrigas anticristãs nas cortes da Europa provocaram a expulsão dos jesuítas dos vice-reinados espanhóis em 1767 e o fechamento da Ordem nos países católicos (foi restaurada em 1814).

E aquela obra providencial nascente caiu em ruínas.

Até que o missionário franciscano alemão Walter Neuwirth, hoje muito idoso e doente, chegou à aldeia de Urubichá em plena Chiquitania.

Ele conta emocionado: “descobri uma dezena de músicos autodidatas que abateram uma árvore da aldeia para fabricar violinos com suas próprias mãos.

O Festival Internacional de Barroco Boliviano atrai a participação de artistas europeus.
O Festival Internacional de Barroco Boliviano
atrai a participação de artistas europeus.
“Eles tocavam maravilhosamente bem. Percebi logo que este povo tinha a música no sangue”.

Veio depois a restauração das igrejas barrocas das antigas missões, aliás admiráveis pela sua beleza na rusticidade.

Simultaneamente foi feito o incrível achado: milhares de partituras dos tempos jesuíticos, de composições europeias ou de ignotos autores locais, zelosamente custodiadas durante séculos pelas autoridades indígenas locais.

A chegada de Ruben Dario Suárez Arana, o primeiro mestre formado em Córdoba, Argentina, foi anunciada pelos sinos da igreja.

O missionário explicou aos fiéis convocados que tinha chegado um professor de música.

E os habitantes “embora – conta frei Walter – mal tinham para comer, decidiram todos participar financeiramente na criação de uma pequena orquestra”.

Uma corrente de transmissão de saber musical passou logo a se espraiar para outras cidades.

O que ensinava o jovem professor vindo de fora, era replicado em dezenas de orquestras municipais que se organizaram logo.

O conservatório começou com todas as carências, mas hoje todo ano acolhe mais vinte novos candidatos.

Aula no conservatório. Os recursos faltam, bispos não ajudam, autoridades chavistas tampouco, mas entusiasmo pela música barroca atrai novos candidatos.
Aula no conservatório. Os recursos faltam, bispos não ajudam, autoridades chavistas tampouco,
mas entusiasmo pela música barroca atrai novos candidatos.
Os primeiros jesuítas não teriam imaginado ouvir As Quatro Estações de Vivaldi ressonando na Chiquitania, mas a orquestra municipal de San Ignacio já fez giras pela Europa e pela América Latina. Seus vídeos estão em Youtube.

Organiza também cada dois anos um Festival Internacional de Música Barroca na cidade que atrai especialistas europeus.

Mauro Sorubi, 42 anos, preferiu se dedicar à confecção de violinos e violoncelos, os instrumentos preferidos dos jovens.

A seu ateliê a toda hora chegam rapazes e moças de bicicleta ou velhas motos para encomendar consertos em seus violinos, que querem ver os mais semelhantes possíveis ao mítico Stradivarius de Félix.

De quase toda choupana de San Ignacio saem notas: são os meninos ensaiando.

Os irmãos Jesus, 18 anos, e Luis, 14, ensaiam um concerto de Beethoven. A fim de contas eles já tem dois anos na orquestra municipal! “Nós temos a música nas veias. Mas não temos outra coisa”, diz seu pai.

A Fé e a Cultura Cristã progrediram de mãos dadas conduzidas pelos missionários tradicionais.
A Fé e a Cultura Cristã progrediram de mãos dadas
conduzidas pelos missionários tradicionais.
A população beira o nível de pobreza, e os jovens aprendizes devem trabalhar a terra, mas isso não é obstáculo para seus nobres anseios artísticos.

Dana Cristina, 12, vive com sua mãe e seus cinco irmãos na sede de um partido político habitualmente deserta quando não há eleição. “Não posso pagar um aluguel” diz a mãe, que é padeira.

Mas Dana Cristina exibe um talento extraordinário e lhe pressagiam um belo futuro.

Ela não tem violino e pede emprestado um durante a noite. Então ensaia a ponto de criar bolhas nos dedos.

A música barroca abre os horizontes mentais das crianças. As notas de Dana na escola subiram como uma flecha com a música.

Outras crianças no contato com as escalas e melodias aspiram ser arquitetos ou astrónomos, profissões que não existem na pobre cidade agrícola de 30.000 almas incluídas as redondezas.

O prefeito, porém, deplora a falta de colaboração da Conferência Episcopal influenciada pela pregação indigenista contrária à verdadeira cultura e que destrói o futuro dos índios.

E tampouco o faz o governo que escolheu a demolição chavista-populista de Evo Morales, aliás felizmente posto para fora pelos próprios bolivianos.

Uns e outros em pouco ou nada ajudam esse promissor progresso civilizatório de essência católica.

E não conseguem impedir o admirável crescimento cultural cristão e a propensão para a Cristandade daqueles que “Le Figaro Magazine” denomina “Os virtuosos da Amazônia”.