segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Diabólica maldição caiu na Venezuela

Maracaibo, ontem capital da riqueza petrolífera, hoje é cidade colapsada
Maracaibo, ontem capital da riqueza petrolífera, hoje é cidade colapsada
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Todas as manhãs, José Aguilera renova a velha e sábia prática de inspecionar as suas bananeiras e pés de café em sua fazenda no leste da Venezuela e chega à mesma deprimente constatação: desses não poderá colher quase nada.

A tragédia o supera: os poços de petróleo próximos expelem um resíduo oleoso e inflamável sobre as plantas. As folhas queimam, secam e murcham.

“Quando ele cai, tudo seca”, disse ele.

É que o socialismo bolivariano fez que a indústria petrolífera da Venezuela, outrora manancial de riqueza, transformar seu destino como num conto povoado de bruxarias.

A própria indústria foi deformada pela vareta diabólica da má administração socialista e um governo autoritário que deixa uma economia e um meio ambiente devastados.

A produção para exportação e consumo interno é mínima para subsistir. Mas, para isso a maldição socialista impõe sacrificar a manutenção básica e usa equipamentos cada vez mais precários, com crescente impacto ambiental.

O exemplo de Aguilera foi escolhido pelo “New York Times” para abrir um estarrecedor retrato da realidade venezuelana.

Aguilera mora em El Tejero, 480 km a leste de Caracas, a capital, numa região nunca vê a escuridão da noite, pois as explosões de gás dos poços de petróleo acontecem a qualquer hora com um ruído estrondoso, suas vibrações rachando as paredes das casas frágeis.

Muitos moradores sofrem de doenças respiratórias que podem ser agravadas pelas emissões dessas explosões. 

Não é uma descrição do inferno da Divina Comedia, mas a chuva faz cair uma película oleosa que corrói o motor dos carros, escurece as roupas brancas e mancha os cadernos que as crianças usam na escola.

Há escassez generalizada de combustível e praticamente ninguém na região tem gás de cozinha em casa.

Maracaibo de lago da riqueza ao atual lago da imundice
Maracaibo de lago da riqueza ao atual lago da imundice
O falecido ditador Hugo Chávez prometeu que a riqueza do petróleo iria para os pobres. Então demitiu milhares de engenheiros e geólogos, e os substituiu por agitadores, apoiadores políticos, confiscando a propriedade privada.

O atual presidente Nicolás Maduro, que se mantém de uma fraude eleitoral em outra, completou o colapso do país. Milhões de venezuelanos que não podiam se alimentar partiram num êxodo em massa enquanto Maduro era abençoado pelo Papa Francisco.

A corrupção do governo Maduro faz desaparecer o pouco dinheiro do petróleo que restou nas orgias dos bajuladores do presidente.

Enquanto isso as refinarias enferrujadas não param de queimar gás e a Venezuela produz cada vez menos petróleo e ocupa o terceiro lugar no mundo em emissões de metano por barril, segundo a Agência Internacional de Energia.

Em Cabimas, a 640 km a noroeste de Caracas, às margens do lago Maracaíbo, o petróleo vaza de dutos subaquáticos deteriorados, cobrindo as margens e transformando a água num verde-neon que pode ser visto do espaço.

Canos quebrados flutuam na superfície e brocas de petróleo enferrujam e afundam na água. Pássaros cobertos de óleo lutam para voar.

Cabimas foi uma das comunidades mais ricas da Venezuela e hoje mal sobrevive na extrema pobreza.

Três irmãos Méndez —Miguel, 16, Diego, 14, e Manuel, 13—remam por essas águas poluídas na esperança de pescar camarões e peixes suficientes para alimentar a si mesmos, seus pais e sua irmã mais nova.

Instalações petrolíferas cairam enferrujadas
Instalações petrolíferas caíram enferrujadas
Eles usam gasolina para lavar o óleo de sua pele.

As crianças brincam e se banham na água, que cheira a vida marinha podre.

O pai dos meninos, Nelson Méndez, 58, diz: “tudo pelo que trabalhei na vida, perdi por causa do petróleo”.

No lago Maracaíbo as chamas de gás empestam a atmosfera porque não há equipamentos para convertê-lo em combustível.

O ministro Josué Alejandro Lorca, disse que o governo não tem recursos para resolver o problema.

Em Cabimas, o pescador David Colina, 46, vestido com um macacão laranja manchado de óleo com o emblema da petrolífera estatal, há trinta anos conseguia pescar mais de cem quilos de peixe.

Agora num dia com sorte puxa dez quilos na rede, que trocará por farinha ou arroz com seus vizinhos.

“Não há mais governo aqui”, se lamenta. É um “triunfo” do socialismo para onde Maduro e seus colegas nos governos latino-americanos estão empurrando o nosso continente.