segunda-feira, 20 de julho de 2020

Nicarágua: médicos lidam com o Covid sob o terror esquerdista

Os ditadores só aparecem  nos grafitti das ruas de Nicáragua
Os ditadores só aparecem  nos grafitti das ruas de Nicáragua
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Na Nicarágua o pessoal médico enfrenta heroicamente a pandemia, mas o sistema de saúde pública foi afundado pelo chavismo e num ambiente de terror trabalha para esmagar qualquer dissidência, descreveu reportagem de “La Nación” de Buenos Aires.

Os corredores dos hospitais estão empapelados com propaganda política, fotos de “heróis e mártires” sandinistas, do presidente Daniel Ortega e da vice-presidente Rosario Murillo, que parecem espionar como o Big Brother da conhecida novela “1984”.

Do lado de fora, nas delegacias e ministérios ondeja a bandeira vermelha e preta do partido governante.

“Lá dentro tudo é secreto”, disse a anestesista Maria Nela Escoto, despedida com mais uma dúzia de médicos especialistas por criticar o tratamento da pandemia por parte do governo.

Ortega alentou o povo a viver de forma “normal”. O governo só contabilizava 83 mortes e 2500 casos confirmados, quando o Observatorio Ciudadano, uma rede de médicos independentes, falava de 2087 decessos e pelo menos 7402 casos suspeitos.

A polícia faz “enterros expressos” pelas noites em cemitérios vigiados.

Durante quase três meses o pessoal sanitário ficou proibido de usar o material especifico contra a epidemia “para não alarmar'' os pacientes.

A Dra. Escoto foi expulsa do hospital Lenin Fonseca porque assinou junto com quase 600 médicos, uma carta pública pedindo equipamentos de proteção para os trabalhadores da saúde em hospitais públicos.

As expulsões foram ordenadas pelo Dr. Gustavo Porras, líder sindicalista que é deputado e presidente sandinista do Parlamento de Nicarágua.

O oncologista pediátrico Gustavo Méndez ficou atendendo em sua casa após ser expulso do Hospital de Niños porque defendeu uma quarentena que o governo bolivariano não gostava
O oncologista pediátrico Gustavo Méndez ficou atendendo em sua casa
após ser expulso do Hospital de Niños
porque defendeu uma quarentena que o governo bolivariano não gostava
Os médicos banidos contam que não se pode “filtrar informação” sobre o que acontece nos hospitais. E quem o faz “é posto imediatamente na rua”.

Nem os jornalistas podem ingressar nos centros de saúde e se tentam se aproximar com câmaras são detidos pela Polícia ou ativistas do governo.

“Os trabalhadores da saúde estão desanimados e têm medo. Temem se contagiar e perder o emprego”, disse o médico Fernando Rojas, anestesista também demitido do hospital Bertha Calderón.

Rojas foi admoestado várias vezes por pedir máscaras e luvas para os funcionários.

“A subdiretora do hospital, Ana Lídia Ortiz, vigia pessoalmente os médicos e os fotografa nos corredores. Faz trabalho de espião”, garante o médico.

A principal oncologista, Indiana Talavera, foi removida há três meses por solicitar máscaras. “Isso fez desabar o serviço de oncologia”, lamentou.

As autoridades de saúde recusaram atender a manifestantes oposicionistas feridos pela Polícia, registrou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que contabilizo 328 mortos e mais de 2.000 feridos nos protestos.

No hospital infantil Vélez Páiz um vigia “tirou a máscara da cara de um médico”', contou Rojas.

Dos 800 empregados do hospital Bertha Calderón, 250 foram enviados “em repouso” a suas casas, com sintomas de coronavírus.

Até 1º de julho morreram por coronavírus pelo menos 38 médicos, 22 enfermeiros e 11 funcionários administrativos.

Para reduzir as cifras oficiais do Covid-19, o governo ordena registrar os decessos como pneumonia atípica, infarto ou simplesmente paro respiratório.

Hospitais lotados, médicos punidos, doentes desaparecido, ninguém acredita nos números do governo bolivariano
Hospitais lotados, médicos punidos, doentes desaparecido,
ninguém acredita nos números do governo bolivariano
Álvaro Ramírez, ex-diretor de Epidemiologia do ministério de Saúde, revela que o regime chavista de Ortega “disfarça de pneumonia as mortes por Covid-19''.

O ministério de Saúde deixou de publicar seus relatórios epidemiológicos semanais e o governo não atende à imprensa.

Até simpatizantes de Ortega foram demitidos por manifestarem solidariedade com seus colegas banidos, como foi o caso da ginecologista Maria Isabel Selva.

“Atingimos níveis de repressão e vingança até contra o pensamento”, escreveu o pediatra oncologista Fulgêncio Báez, que apoiou os sandinistas nos anos 80.

O Dr. Adán Alonso atendia voluntariamente aos pacientes de Covid-19 recusados nos hospitais de León e Chinandega. Pelo seu sacrifício altruísta era chamado de “o doutor do povo”.

Ele morreu de coronavírus e a polícia bloqueou seus funerais com tropa anti-distúrbios, perseguiu os carros que participaram da procissão fúnebre e confiscou as bandeiras nacionais que as filhas do médico morto levavam em sinal de protesto.



segunda-feira, 6 de julho de 2020

Venezuela: Rússia e Irã provocam EUA por petróleo

Lavrov apoia Madura contra os EUA
Lavrov apoia Madura contra os EUA
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





O Departamento do Tesouro americano sancionou a empresa Rosneft Trading S.A., filial da petroleira estatal russa Rosneft, por trabalhar a favor da ditadura de Maduro na Venezuela.

“Os EUA estão decididos a impedir o saque da riqueza petrolífera da Venezuela pelo regime corrupto de Maduro”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Steven T. Mnuchin — noticiou a BBC.

Com efeito, o governo dos EUA acabava de renovar seu apoio ao presidente constitucional Juan Guaidó com uma ovação no Congresso, além de uma reunião com o presidente Trump na Casa Branca.

Por sua vez, Maduro recebia em Caracas a visita de Serguei Lavrov, o ministro de Exteriores russo. Foram dois golpes de cena que, segundo o The New York Times, “não foram coincidência”.

Lavrov chegou a Caracas logo depois da visita de Guaidó a Washington e do giro do secretário de Estado Mike Pompeo por antigas repúblicas soviéticas que Moscou considera sua área de influência.

O porta-voz de Lavrov em Caracas garantiu que a visita visava “contrabalançar as sanções” dos EUA.

Petroleiro iraniano desembarca combustíveis na Venezuela
Petroleiro iraniano desembarca combustíveis na Venezuela
A Rosneft é uma das “empresas estratégicas” do Estado russo e seu diretor, Igor Sechin, é membro da Nomenklatura, gozando da máxima confiança de Putin.

A Rosneft foi a única companhia energética a não ser expropriada pelo governo chavista ou que abandonou o país enquanto a produção petroleira desabava.

Para o regime de Maduro, a Rosneft é tão importante como o fornecimento de armamento e sistemas de defesa, sentimento partilhado pelo Kremlin.

Hoje a Rosneft controla várias jazidas vitais do país, onde opera em sociedade com a estatal venezuelana PDVSA.

Os EUA tentam bloquear as exportações de Caracas, mas a Rosneft continua comprando o óleo venezuelano e fornecendo um salva-vidas à ditadura.

A Rosneft alega que recebe petróleo venezuelano como pagamento de dívidas.

É mero pretexto, pois a Rosneft consegue assim administrar entre 60%o e 70% das exportações venezuelanas.

O povo padece fome, mas o governo chavista está pagando sua imensa dívida ao regime do Kremlin, o qual mantém o povo russo subalimentado.

O economista Ramiro Molina, ex-diretor de algumas das mais importantes empresas venezuelanas do setor, acredita que a dívida será totalmente paga este ano.

Qual será então o novo pretexto? Se os venezuelanos estão no fundo da miséria, os russos não passam muito melhor.

Então, para onde vai toda essa riqueza?

“Eles carregam o óleo na Venezuela e o transportam até a Índia e Singapura, onde o transferem no mar para petroleiros que seguem para a China”, explica o economista.

Marinha de guerra venezuelana da espalhafatosa cobertura a navios tanque iranianos.
Marinha de guerra venezuelana da espalhafatosa cobertura a navios tanque iranianos.
A China evita se comprometer com a Venezuela e a Rosneft colhe os benefícios pela distribuição em condições muito vantajosas: 15 ou 20% a mais, pelo risco das sanções americanas.

Muitos petroleiros desativam seus sistemas de localização para que seu operar ilícito não possa ser acompanhado.

Também o governo venezuelano recebe euros em dinheiro vivo, que agora começaram a circular em Caracas.

Maduro teria recebido assim entre seis e sete bilhões de dólares por exportações petrolíferas, apesar das medidas de Washington.

A Venezuela, outrora um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, possuindo ainda as maiores reservas conhecidas, vive numa situação dramática em matéria de combustíveis.

A empresa americana Baker Hughes informou no dia 8 de junho de 2020 que o país só tem uma perfuradora extraindo petróleo. É menos do mínimo histórico da petrolífera estatal (PDVSA), informou “El Universal” de Caracas.

A administração não fornece mais informações. O mínimo histórico foi em 2003, quando greves deixaram ativas apenas 17 perfuradoras, que em 1999 eram 200.

Francisco Monaldi, diretor do Centro Internacional de Energía y Ambiente del Instituto de Estudios Superiores de Administración (IESA), escreveu nas redes sociais que “a produção de petróleo da Venezuela atingiu os níveis dos anos 30, portanto de há quase um século”.

“A produção continuará caindo”, advertiu. Os “milagres” infernais do socialismo não param — completa.

Pelos dados da OPEP, só no mês de maio [2020] a Venezuela passou da 111ª posição para 115ª no ranking do Índice de Transição Energética 2020 do Foro Econômico Mundial.

A ditadura populista, com o aval russo, obteve que o Irã lhe enviasse cinco petroleiros com combustíveis para sobreviver.

Clavel, último petroleiro que chegou a Venezuela
Clavel: último petroleiro que chegou a Venezuela
O último deles ingressou no dia 1º de junho de 2020, escoltado por naves de guerra venezuelanas, noticiou “El Universal”.

O petroleiro “Clavel”, o quinto a chegar carregado de combustível, completou um total de 1,5 bilhões de barris de gasolina e substâncias para regular a octanagem do carburante, levados primeiro pelos cargueiros “Fortune”, “Forest”, “Petunia” e “Faxon”.

Nicolás Maduro multiplica os métodos para apertar o racionamento, tendo limitado o consumo a 120 litros mensais para veículos particulares e 60 litros para motocicletas.

Mas com a condição de que o cidadão esteja cadastrado num órgão especial do governo, denominado “plataforma Pátria”.

Quem precisar de mais deverá recorrer a postos que vendem o litro por 0,50 dólares, um preço inaccessível para a maioria dos venezuelanos.

O transporte público e de carga terá um subsídio de 100% nos próximos 90 dias, depois tudo dependerá de “uma mesa de diálogo”.

O Irã, por sua vez, como desafio aos EUA, confirmou que enviará mais carregamentos, pois tanto ele quanto a Venezuela estão sancionados pelo gigante americano.

O desabastecimento de combustíveis e o colapso da produção são atribuídos pelos especialistas à corrupção e a decisões desastradas da petrolífera estatal.

O governo abriu portas extrajurídicas a “importadores privados” para vender gasolina a preços dolarizados, sem explicar quem são nem se houve as licitações obrigatórias por lei.

O auxílio foi tão decisivo que o ditador Maduro viajará ao Irã – outrora concorrente no mercado mundial – para agradecer pessoalmente aos petroleiros de gasolina, “tão logo seja possível, pelas condições sanitárias do Irã e da Venezuela”, declarou na única TV – a oficial – que resta, acrescentou “El Universal”.

A referência às condições sanitárias parece ser uma situação desesperadora que atinge os dois países.

Premente ajuda humanitária iraniana a Venezuela
Premente ajuda humanitária iraniana a Venezuela
O Irã beira os 200.000 contágios e 10.000 mortes, enquanto a Venezuela apresenta números falseados, estando seu sistema médico e o fornecimento de serviços públicos — como água potável, coleta de lixo e esgoto — numa decadência atroz, talvez só superada por Cuba.

Por isso foi comemorado o lote de insumos médicos chegados do Irã para combater o Covid-19, segundo “El Universal”.

Diversos kits e equipamentos médicos foram saudados no aeroporto internacional de Caracas pelo presidente da Comissão de Alto Nível Irã-Venezuela e pelo embaixador iraniano Hojjatollah Soltani.

O embaixador exultou com a chegada dos navios com combustíveis e dos materiais contra o coronavírus, pois “demonstra que enquanto nossos inimigos tentam nos sancionar (...) o Irã, a Venezuela e muitos povos revolucionários do mundo nos fortalecem com solidariedade”.

Na carência, na ditadura e na doença, é claro.