segunda-feira, 6 de julho de 2020

Venezuela: Rússia e Irã provocam EUA por petróleo

Lavrov apoia Madura contra os EUA
Lavrov apoia Madura contra os EUA
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





O Departamento do Tesouro americano sancionou a empresa Rosneft Trading S.A., filial da petroleira estatal russa Rosneft, por trabalhar a favor da ditadura de Maduro na Venezuela.

“Os EUA estão decididos a impedir o saque da riqueza petrolífera da Venezuela pelo regime corrupto de Maduro”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Steven T. Mnuchin — noticiou a BBC.

Com efeito, o governo dos EUA acabava de renovar seu apoio ao presidente constitucional Juan Guaidó com uma ovação no Congresso, além de uma reunião com o presidente Trump na Casa Branca.

Por sua vez, Maduro recebia em Caracas a visita de Serguei Lavrov, o ministro de Exteriores russo. Foram dois golpes de cena que, segundo o The New York Times, “não foram coincidência”.

Lavrov chegou a Caracas logo depois da visita de Guaidó a Washington e do giro do secretário de Estado Mike Pompeo por antigas repúblicas soviéticas que Moscou considera sua área de influência.

O porta-voz de Lavrov em Caracas garantiu que a visita visava “contrabalançar as sanções” dos EUA.

Petroleiro iraniano desembarca combustíveis na Venezuela
Petroleiro iraniano desembarca combustíveis na Venezuela
A Rosneft é uma das “empresas estratégicas” do Estado russo e seu diretor, Igor Sechin, é membro da Nomenklatura, gozando da máxima confiança de Putin.

A Rosneft foi a única companhia energética a não ser expropriada pelo governo chavista ou que abandonou o país enquanto a produção petroleira desabava.

Para o regime de Maduro, a Rosneft é tão importante como o fornecimento de armamento e sistemas de defesa, sentimento partilhado pelo Kremlin.

Hoje a Rosneft controla várias jazidas vitais do país, onde opera em sociedade com a estatal venezuelana PDVSA.

Os EUA tentam bloquear as exportações de Caracas, mas a Rosneft continua comprando o óleo venezuelano e fornecendo um salva-vidas à ditadura.

A Rosneft alega que recebe petróleo venezuelano como pagamento de dívidas.

É mero pretexto, pois a Rosneft consegue assim administrar entre 60%o e 70% das exportações venezuelanas.

O povo padece fome, mas o governo chavista está pagando sua imensa dívida ao regime do Kremlin, o qual mantém o povo russo subalimentado.

O economista Ramiro Molina, ex-diretor de algumas das mais importantes empresas venezuelanas do setor, acredita que a dívida será totalmente paga este ano.

Qual será então o novo pretexto? Se os venezuelanos estão no fundo da miséria, os russos não passam muito melhor.

Então, para onde vai toda essa riqueza?

“Eles carregam o óleo na Venezuela e o transportam até a Índia e Singapura, onde o transferem no mar para petroleiros que seguem para a China”, explica o economista.

Marinha de guerra venezuelana da espalhafatosa cobertura a navios tanque iranianos.
Marinha de guerra venezuelana da espalhafatosa cobertura a navios tanque iranianos.
A China evita se comprometer com a Venezuela e a Rosneft colhe os benefícios pela distribuição em condições muito vantajosas: 15 ou 20% a mais, pelo risco das sanções americanas.

Muitos petroleiros desativam seus sistemas de localização para que seu operar ilícito não possa ser acompanhado.

Também o governo venezuelano recebe euros em dinheiro vivo, que agora começaram a circular em Caracas.

Maduro teria recebido assim entre seis e sete bilhões de dólares por exportações petrolíferas, apesar das medidas de Washington.

A Venezuela, outrora um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, possuindo ainda as maiores reservas conhecidas, vive numa situação dramática em matéria de combustíveis.

A empresa americana Baker Hughes informou no dia 8 de junho de 2020 que o país só tem uma perfuradora extraindo petróleo. É menos do mínimo histórico da petrolífera estatal (PDVSA), informou “El Universal” de Caracas.

A administração não fornece mais informações. O mínimo histórico foi em 2003, quando greves deixaram ativas apenas 17 perfuradoras, que em 1999 eram 200.

Francisco Monaldi, diretor do Centro Internacional de Energía y Ambiente del Instituto de Estudios Superiores de Administración (IESA), escreveu nas redes sociais que “a produção de petróleo da Venezuela atingiu os níveis dos anos 30, portanto de há quase um século”.

“A produção continuará caindo”, advertiu. Os “milagres” infernais do socialismo não param — completa.

Pelos dados da OPEP, só no mês de maio [2020] a Venezuela passou da 111ª posição para 115ª no ranking do Índice de Transição Energética 2020 do Foro Econômico Mundial.

A ditadura populista, com o aval russo, obteve que o Irã lhe enviasse cinco petroleiros com combustíveis para sobreviver.

Clavel, último petroleiro que chegou a Venezuela
Clavel: último petroleiro que chegou a Venezuela
O último deles ingressou no dia 1º de junho de 2020, escoltado por naves de guerra venezuelanas, noticiou “El Universal”.

O petroleiro “Clavel”, o quinto a chegar carregado de combustível, completou um total de 1,5 bilhões de barris de gasolina e substâncias para regular a octanagem do carburante, levados primeiro pelos cargueiros “Fortune”, “Forest”, “Petunia” e “Faxon”.

Nicolás Maduro multiplica os métodos para apertar o racionamento, tendo limitado o consumo a 120 litros mensais para veículos particulares e 60 litros para motocicletas.

Mas com a condição de que o cidadão esteja cadastrado num órgão especial do governo, denominado “plataforma Pátria”.

Quem precisar de mais deverá recorrer a postos que vendem o litro por 0,50 dólares, um preço inaccessível para a maioria dos venezuelanos.

O transporte público e de carga terá um subsídio de 100% nos próximos 90 dias, depois tudo dependerá de “uma mesa de diálogo”.

O Irã, por sua vez, como desafio aos EUA, confirmou que enviará mais carregamentos, pois tanto ele quanto a Venezuela estão sancionados pelo gigante americano.

O desabastecimento de combustíveis e o colapso da produção são atribuídos pelos especialistas à corrupção e a decisões desastradas da petrolífera estatal.

O governo abriu portas extrajurídicas a “importadores privados” para vender gasolina a preços dolarizados, sem explicar quem são nem se houve as licitações obrigatórias por lei.

O auxílio foi tão decisivo que o ditador Maduro viajará ao Irã – outrora concorrente no mercado mundial – para agradecer pessoalmente aos petroleiros de gasolina, “tão logo seja possível, pelas condições sanitárias do Irã e da Venezuela”, declarou na única TV – a oficial – que resta, acrescentou “El Universal”.

A referência às condições sanitárias parece ser uma situação desesperadora que atinge os dois países.

Premente ajuda humanitária iraniana a Venezuela
Premente ajuda humanitária iraniana a Venezuela
O Irã beira os 200.000 contágios e 10.000 mortes, enquanto a Venezuela apresenta números falseados, estando seu sistema médico e o fornecimento de serviços públicos — como água potável, coleta de lixo e esgoto — numa decadência atroz, talvez só superada por Cuba.

Por isso foi comemorado o lote de insumos médicos chegados do Irã para combater o Covid-19, segundo “El Universal”.

Diversos kits e equipamentos médicos foram saudados no aeroporto internacional de Caracas pelo presidente da Comissão de Alto Nível Irã-Venezuela e pelo embaixador iraniano Hojjatollah Soltani.

O embaixador exultou com a chegada dos navios com combustíveis e dos materiais contra o coronavírus, pois “demonstra que enquanto nossos inimigos tentam nos sancionar (...) o Irã, a Venezuela e muitos povos revolucionários do mundo nos fortalecem com solidariedade”.

Na carência, na ditadura e na doença, é claro.


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