segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Argentina está chocada
pelos gestos políticos do Papa Francisco – 1

Com Fidel Castro em Cuba: estreitando amizade com símbolo da ditadura marxista
Com Fidel Castro em Cuba: estreitando amizade com símbolo da ditadura marxista
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Conta-se que Napoleão, desfilando certa feita triunfalmente em Paris, tinha perto de si um diplomata estrangeiro, para o qual se teria voltado e dito: “O senhor está vendo quanto me ovacionam?”

E o diplomata lhe teria então respondido: “Sire, os homens cobram os aplausos que dão”.

Poucos anos depois Napoleão fugia de Paris disfarçado de soldado austríaco, para não ser reconhecido e linchado pelos franceses cujos filhos haviam sido sacrificados em suas aventuras guerreiras.

Há paradoxos que se repetem na História. Afinal de contas, a psicologia humana é sempre a mesma.

Houve um momento em que o Papa Francisco parecia ter a Argentina rendida a seus pés, tão grande era a popularidade que lhe atribuía unanimemente o macrocapitalismo publicitário.

Hoje, três anos depois, quem chega a Buenos Aires encontra a opinião pública, especialmente a católica, mudada a seu respeito.



Arcebispo Víctor Fernández,
reitor da Universidade Católica Argentina:
“me disseram na rua: ‘Fale para esse Papa calar a boca,
porque está se equivocando muito e mal,
é um irresponsável’.”
Testemunha dessa mudança é o arcebispo Víctor M. Fernández, Reitor da Universidade Católica Argentina (UCA), tido como ghost writer (redator) dos principais documentos do Papa.

Segundo ele, os argentinos hoje “interpretam cada um de seus [do Papa Francisco] pequenos gestos pastorais e evangélicos de maneira política, e ardem em insultos e maledicências.

“A mim, me disseram na rua com olhares de ódio: ‘Fale para esse Papa calar a boca, porque está se equivocando muito e mal, é um irresponsável’.” (La Nación, 19-02-16).

Também o arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia de Ciências e de Ciências Sociais, que mora em Roma desde 1971, verificou análogo mal-estar em seu país:

“É um escândalo que não apoiem o Papa. (...) É muito curioso que critiquem tudo o que faz, (...) sobretudo aqueles que se dizem católicos e de comunhão diária”.

Diante da observação do jornalista de “La Nación”, de que parte da sociedade argentina está convencida de que o Papa está próximo demais do kirchnerismo, o prelado insistiu:

“Realmente, é um escândalo que não apoiem o Papa. Não só isso, mas que sejam contra, que não o apoiem totalmente”.

A mudança não é de hoje, mas vinha acontecendo havia tempo, e de modo ao que parece irreversível.

Vinham se multiplicando os gestos pastorais do Papa Francisco simpáticos aos políticos e líderes de movimentos sociais do socialismo bolivariano de Cristina Kirchner.

Mas a pressão represada eclodiu em 2016.



Alfredo Leuco, jornalista que milita na esquerda e não declara a sua religião, redigiu um editorial sobre a causa do problema:

“Tenho profunda admiração pelo Papa Francisco. É quem está realizando mais transformações revolucionárias em todo o planeta. O que eu critico é sua relação com personagens argentinos que são nefastos, corruptos, e que sujam sua investidura e sua mensagem porque representam tudo o que é contrario ao que ele prega.

“Compreendo sua simpatia pelos regimes populistas da região, inclusive o kirchnerismo, mas é um tiro no pé, nas próprias convicções, que ele receba o afeto de dirigentes sindicais, sociais ou políticos que são o símbolo da corrupção, do enriquecimento ilícito e do autoritarismo.

“O Papa em seus encontros com Cristina pareceu premiar esses comportamentos com sorrisos complacentes e com seu silêncio diante dos perseguidos pelo regime de Cristina e de Hugo Chávez, por exemplo. Ainda não disse uma palavra sobre os presos políticos na Venezuela.

“São realidades que não se podem ocultar. O terço bento presenteado a Milagro Sala é um passo ainda mais inquietante e perigoso. Ela não é uma lutadora social que está presa por isso, ela é a padroeira do mal, está acusada de ser chefe de uma associação ilícita e extorsiva e por isso poucos a defendem, inclusive em sua própria terra” (Siempre Noticias, 29-02-16).

A ascensão de Maurício Macri à presidência da Argentina, levado por uma onda de descontentamento antibolivariano mais do que por méritos próprios, desmoralizou o populismo lulo-chavista-kirchnerista no continente.

O Pontífice mostrou seu desgosto político com a opção democrática do povo argentino: o Núncio não compareceu à cerimonia de posse e o Papa não mandou nenhuma mensagem protocolar.


continua no próximo post: A Argentina está chocada pelos gestos políticos do Papa Francisco – 2


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