segunda-feira, 20 de junho de 2016

A Argentina está chocada
pelos gestos políticos do Papa Francisco – 3

O Papa com o arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, articulador de atividades com "movimentos sociais" da vertente ideológica do MST
O Papa com o arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo,
articulador de atividades com "movimentos sociais" da vertente ideológica do MST
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



continuação do post anterior: A Argentina está chocada pelos gestos políticos do Papa Francisco – 2



O impacto da revelação do caso de Margarita ainda não tinha se apagado quando a imprensa internacional divulgou que numa reunião com os bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) o Papa Francisco disse que em alguns países da América do Sul está ocorrendo “um golpe de estado branco”.

Ele manifestou preocupação com os “conflitos sociais, econômicos e políticos” na Venezuela, no Brasil, na Bolívia e na Argentina. Cfr. “O Dia”.

A notícia foi surpreendente: na Argentina, a comparação com a Venezuela foi chocante e a interpretação da realidade do Brasil soou como uma tomada de atitude favorecedora da propaganda internacional do PT.

Logo chegou, por vias terceiras, um desmentido do Vaticano: um sacerdote amigo que teria recebido um telefonema do Papa Francisco desmentindo, etc.



A comoção ainda perdurava quando Francisco recebeu, à testa de seu grupo, a líder pró-comunista das “Mães da Praça de Maio”, Hebe de Bonafini, movimento investigado por confusos desvios metódicos de verbas largamente outorgadas pela presidência kirchnerista.



“Não vim’ falar com o Papa Francisco como ‘Mãe’. Eu lhe disse que em cinco meses o governo Macri destruiu aquilo que vivemos como povo feliz nos doze anos anteriores. Em nossa Pátria há muita violência institucional e da outra”, declarou Bonafini ao jornal “Clarín”.

Segundo as versões, a recepção durou de “mais de uma hora” até duas, contrastando com os meros 22 minutos concedidos de má vontade ao presidente Macri.

Na saída, Bonafini disse à radio Del Plata, de Buenos Aires, que “o Papa me falou que está triste e que isto lhe faz lembrar 55” (1955), ano em que o ditador Perón foi destituído por um golpe militar e a sociedade ficou dividida entre peronismo e antiperonismo.

Bonafini parafraseou a leitura de luta de classes da sociedade argentina, dizendo que os “pobres” não estão podendo pagar o pão e os “ricos” continuam comendo “pão bom”, que “isso é violência”, que o governo “negocia a instalação de duas bases ianques”, que diariamente 1.200 trabalhadores perdem o emprego, e que professores aposentados não podem pagar os serviços públicos, etc.

Hebe de Bonafini também aproveitou a oportunidade para invectivar a Justiça argentina, deblaterando contra os “juízes corruptos que perseguem a Cristina e querem prendê-la”.

Em testemunho da veracidade do que denunciava, disse que “não viemos contar mentiras” para o Papa. Ela completou reconhecendo ser verdade que o governo foi eleito pelo povo, “mas certas vezes os povos nos equivocamos”.

A comparação com a polarização após a queda de Perón em 1955 foi geralmente interpretada como manifesto exagero, e o desmentido, sempre por vias terceiras, vindo de Roma, não foi aceito, considerando a pluralidade de fontes diversas que disseram ter ouvido a frase do Papa.

Hebe de Bonafini teme a Justiça argentina
Hebe de Bonafini teme a Justiça argentina
O escritor e colunista Jorge Fernández Díaz, de “La Nación”, mostrou eloquentemente em vídeo que “Francisco opera politicamente na Argentina” favorecendo o espectro esquerdista-populista de Cristina Kirchner e seus acólitos, com distorcido partidarismo ideológico. Confira: “Jorge Fernández Díaz: "Francisco opera politicamente na Argentina”

No início de junho, o jornal “Clarín” publicou os resultados de uma sondagem feita por Management & Fit, por ocasião dos seis primeiros meses do novo presidente.

O trabalho consultou 2.000 pessoas que interrogadas si acreditavam que o Papa Francisco tem uma atitude mais próxima de algum grupo político, 42,2% optou por “sua atitude é mais próxima ao kirchnerismo” e só 2,7% “mais próxima ao macrismo”, os restantes se distribuíram em genéricos “a mesma para todos” ou “não sabe/não contesta”.

Por sua parte, o Pontífice mandou devolver uma doação de um milhão de dólares para a Fundação Scholas Occurrentes que ele próprio promove para a educação escolar católica.

O gesto foi recebido geralmente como um ato de despeito em relação ao governo do presidente Macri.

Axel Kiciloff, ex-ministro de economia de Cristina Kirchner investigado pela Justiça, comemorou a recusa como um apoio político-ideológico:

“O governo de Macri vai na direção oposta da pregação do papa Francisco”, insistindo em que “seria raro que apoie a um governo que está fazendo o contrário de sua orientação no papado ... Para andar de boas com o Papa [Macri] tem que mudar suas políticas e deixar de governar para os ricos”, segundo noticiou “La Nación”.


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