segunda-feira, 21 de março de 2022

Cuba produz açúcar como em 1905

Usinas de açúcar cubanas caem aos pedazos
Usinas de açúcar cubanas caem aos pedazos
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







No Granma, jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o diretor da estatal AZCUBA, Tomas Aquino, afirmou que a safra de açúcar não cumpriu 30% previsto para janeiro.

Ele culpabilizou às “más condições de infraestrutura e organização” do país socialista. A nota oficial pretende dissimular os fatos reais.

O país sofre há décadas de carência de insumos e peças de reposição, e desconhece ou desrespeita a boa organização e o planejamento. Os trabalhos se fazem com maquinarias escassas e vetustas de muitas décadas, quando não é no trabalho manual e a tração animal, escreveu em Miami o “Diário de las Américas”.

As autoridades deploram que não há baterias, pneus, partes e peças das máquinas e culpam os responsáveis das empresas agrícolas por não conseguir “emprestadas” essas peças.

A verdade é que nos últimos anos, segundo informa a BBC News desde 2010 pelo menos, a produção de açúcar, a maior de Cuba antes do socialismo, atingiu os níveis de 1905.

Informa o “Diário de Cuba” que seis entidades canavieiras estão fora de serviço em Ciego de Ávila e três não têm baterias para seus periclitantes veículos.

O vice-primeiro-ministro, Jorge Luis Tapia Fonseca, acha que se poderia resolver o caso solicitando as peças “em empréstimo aos ministério dos Recursos Hidráulicos, da Construção, ou até mesmo da Agricultura”. Do contrário a colheita não será colhida nos volumes desejados pelo Partido Comunista.

Estatal do açúcar chora para conseguir 'emprestada' peças para sua maquinária
Estatal do açúcar chora para conseguir 'emprestada' peças para sua maquinaria
O ministro acrescentou que sem essas máquinas não haverá açúcar nem para os moradores e produtores da província”.

Dos antiquados caminhões que deveriam estar disponíveis, 28 estão parados, e sete com problemas nas baterias.

O corte da cana naufraga na dispersão pela área e não há sistema que agilize a colheita. Falta água e os trens não funcionam.

O corte manual tem baixos rendimentos pela invasão do capim e nem a tração animal supre a falta de maquinaria.

Há muito há mau preparo do solo, e só pouco mais da metade da terra foi preparado.

A precariedade que sofrem os camponeses é tamanha que reclamam ao vice-primeiro-ministro cubano Jorge Luis Tapia Fonseca calçados e roupas para o trabalho agrícola.

A maior usina de açúcar do país, em Ciego de Ávila, iniciou a safra com uma dívida equivalente a mais de três milhões de dólares ao câmbio oficial, uma fortuna no país.

O governo marxista excerce um monopólio radical batizado com o sintomático nome de “Acopio”. Os agricultores devem vender-lhe grande parte de suas colheitas a preços impostos pelo Estado.

Até as próprias autoridades criticam com frequência a ineficiência de “Acopio”, que é uma das entidades mais impopulares da ilha. E tal vez das mais corruptas, se isso for possível

Não só falta açúcar, mas o país sofre a pior crise alimentar até agora vista em um século, com grave escassez de bens de primeira necessidade, especialmente alimentos e remédios.

Um dos 47 novos agromercados onde não há nada à venda, La Habana
Um dos 47 novos agromercados onde não há nada à venda, La Habana
Para acalmar os protestos o Governo anunciou a abertura de novos agro-mercados em Havana, informou o “Diário de Cuba”.

A reação popular ficou sintetizada na expressão: “é coisa de ficção científica”, pois os tais “agromercados” não passam de banquinhas com grandes cartazes, totalmente vazias e sem atendentes.

Para explicar o desastre crônico, já em 2010 o jornal comunista Granma reconhecia que “desde 1905 o país não tem uma campanha açucareira tão pobre”, segundo cita a BBC News.

Cuba foi capaz de produzir mais de 8 milhões de toneladas, com 150 engenhos de açúcar que eram a principal fonte de trabalho e renda do país. Porém, o produto ia sobre tudo para a União Soviética.

A meta de 2022 foi estabelecida pelo PC em 10 milhões, cifra que dificilmente será atingida.

Quando essa caiu, Fidel Castro fechou mais da metade das usinas e os canaviais foram substituídos pelo cultivo premente de alimentos e dezenas de milhares de trabalhadores foram “reeducados”.

A indústria estatal cubana de açúcar ficou semi-destruída e os canaviais invadidos pelo capim.

Com essa miserabilização, certamente nunca veremos por Cuba progressistas de igreja, ecologistas ou esquerdistas que entre nós são acérrimos críticos do agronegócio dos produtores privados e que dão de comer à humanidade