Usinas de açúcar cubanas caem aos pedazos |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
No Granma, jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o diretor da estatal AZCUBA, Tomas Aquino, afirmou que a safra de açúcar não cumpriu 30% previsto para janeiro.
Ele culpabilizou às “más condições de infraestrutura e organização” do país socialista. A nota oficial pretende dissimular os fatos reais.
O país sofre há décadas de carência de insumos e peças de reposição, e desconhece ou desrespeita a boa organização e o planejamento. Os trabalhos se fazem com maquinarias escassas e vetustas de muitas décadas, quando não é no trabalho manual e a tração animal, escreveu em Miami o “Diário de las Américas”.
As autoridades deploram que não há baterias, pneus, partes e peças das máquinas e culpam os responsáveis das empresas agrícolas por não conseguir “emprestadas” essas peças.
A verdade é que nos últimos anos, segundo informa a BBC News desde 2010 pelo menos, a produção de açúcar, a maior de Cuba antes do socialismo, atingiu os níveis de 1905.
Informa o “Diário de Cuba” que seis entidades canavieiras estão fora de serviço em Ciego de Ávila e três não têm baterias para seus periclitantes veículos.
O vice-primeiro-ministro, Jorge Luis Tapia Fonseca, acha que se poderia resolver o caso solicitando as peças “em empréstimo aos ministério dos Recursos Hidráulicos, da Construção, ou até mesmo da Agricultura”. Do contrário a colheita não será colhida nos volumes desejados pelo Partido Comunista.
Estatal do açúcar chora para conseguir 'emprestada' peças para sua maquinaria |
Dos antiquados caminhões que deveriam estar disponíveis, 28 estão parados, e sete com problemas nas baterias.
O corte da cana naufraga na dispersão pela área e não há sistema que agilize a colheita. Falta água e os trens não funcionam.
O corte manual tem baixos rendimentos pela invasão do capim e nem a tração animal supre a falta de maquinaria.
Há muito há mau preparo do solo, e só pouco mais da metade da terra foi preparado.
A precariedade que sofrem os camponeses é tamanha que reclamam ao vice-primeiro-ministro cubano Jorge Luis Tapia Fonseca calçados e roupas para o trabalho agrícola.
A maior usina de açúcar do país, em Ciego de Ávila, iniciou a safra com uma dívida equivalente a mais de três milhões de dólares ao câmbio oficial, uma fortuna no país.
O governo marxista excerce um monopólio radical batizado com o sintomático nome de “Acopio”. Os agricultores devem vender-lhe grande parte de suas colheitas a preços impostos pelo Estado.
Até as próprias autoridades criticam com frequência a ineficiência de “Acopio”, que é uma das entidades mais impopulares da ilha. E tal vez das mais corruptas, se isso for possível
Não só falta açúcar, mas o país sofre a pior crise alimentar até agora vista em um século, com grave escassez de bens de primeira necessidade, especialmente alimentos e remédios.
Um dos 47 novos agromercados onde não há nada à venda, La Habana |
A reação popular ficou sintetizada na expressão: “é coisa de ficção científica”, pois os tais “agromercados” não passam de banquinhas com grandes cartazes, totalmente vazias e sem atendentes.
Para explicar o desastre crônico, já em 2010 o jornal comunista Granma reconhecia que “desde 1905 o país não tem uma campanha açucareira tão pobre”, segundo cita a BBC News.
Cuba foi capaz de produzir mais de 8 milhões de toneladas, com 150 engenhos de açúcar que eram a principal fonte de trabalho e renda do país. Porém, o produto ia sobre tudo para a União Soviética.
A meta de 2022 foi estabelecida pelo PC em 10 milhões, cifra que dificilmente será atingida.
Quando essa caiu, Fidel Castro fechou mais da metade das usinas e os canaviais foram substituídos pelo cultivo premente de alimentos e dezenas de milhares de trabalhadores foram “reeducados”.
A indústria estatal cubana de açúcar ficou semi-destruída e os canaviais invadidos pelo capim.
Com essa miserabilização, certamente nunca veremos por Cuba progressistas de igreja, ecologistas ou esquerdistas que entre nós são acérrimos críticos do agronegócio dos produtores privados e que dão de comer à humanidade
Cubinha está tendo o que sempre procurou!
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