Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Em artigo publicado no jornal “Clarín”, de Buenos Aires, o insuspeito jornalista de tendências conservadoras Alfredo Leuco chorou “o doloroso papel que o Papa Francisco vem realizando na Argentina”.
Leuco narrou o carteio que mantém com o Pontífice e os presentes que recebeu dele. Apesar disso, manifestou “dor e desilusão” com aquele que, segundo o jornalista, capitaliza as esperanças das esquerdas latino-americanas.
O problema seria o engajamento do Pontífice e os privilégios políticos que ele concede a um populismo cuja corrupção está destruindo a respeitabilidade das esquerdas.
Não seriam ‘apenas’ políticos corruptos, mas “mafiosos enriquecidos ilegalmente na função pública”.
Como exemplo, Leuco cita Omar “Caballo” Suárez, tido como um “preferido de Cristina, que tem seu gabinete coberto de fotos das muitas entrevistas com o Papa enquanto a justiça investiga extorsões e falcatruas” aprontadas nesse mesmo gabinete.
Também mencionou Guillermo Moreno, membro, segundo ele, de uma gangue que passa a pior das imagens, mas que “tem acesso livre à intimidade papal” e gere os encontros do Pontífice com figuras políticas argentinas, em geral dos ‘movimentos sociais’ mais à esquerda e com pior reputação pessoal.
A linha do Papa Francisco é acompanhada na Argentina por alguns eclesiásticos, como Mons. Jorge Lozano, diretor da Pastoral Social da Conferência Episcopal Argentina, que recebeu institucionalmente comandantes de esquadrões fautores de violência e de diversos crimes.
A figura do Pontífice sofreu acrescido desgaste após a escandalosa descoberta de uma rede de corrupção da qual participavam pelo menos um arcebispo, um convento não canonicamente estabelecido, cujas dependências serviam de local para as reuniões, ativistas femininas que se apresentam como freiras, além de personagens dos “movimentos sociais” e do governo kirchnerista, hoje distinguidos com relevantes posições em projetos do Vaticano.
Proliferaram as fotos de arquivo de personagens do esquema de corrupção kirchnerista recebidos pelo Papa Francisco I. Na foto Guillermo Moreno. |
Seu presidente, Mons. José María Arancedo esclareceu que o escândalo das falsas freiras e do mosteiro suspeito não suja a Igreja enquanto instituição, malgrado possa ter havido falhas de um arcebispo.
Ele garantiu para “La Nación” que as ilegalidades eventualmente cometidas serão tiradas a limpo posto que “a Igreja não pode encobrir ou ocultar por espírito corporativo alguém que agiu mal ou cometeu um delito”.
Por sua vez, numa solenidade na embaixada da França em Buenos Aires, o Núncio Apostólico, Mons. Emil Paul Tscherrig, declarou à imprensa que o caso do falso mosteiro “afeta muito a imagem da Igreja na Argentina” e que ele mantém informado o Papa Francisco “a cada momento”, publicou “La Nación”.
A tempestade atinge a Fundação “Scholas Occurrentes”, um projeto promovido pessoalmente pelo Papa.
Na Aula Nova do Sínodo, no Vaticano, durante o encerramento do congresso mundial de “Scholas”, com a presença de estrelas de Hollywood como Richard Gere, George Clooney e Salma Hayek, o atual subsecretario de Culto argentino, Alfredo Abriani, anunciou um donativo milionário para a iniciativa do Papa.
A doação foi confirmada com decreto publicado no jornal oficial do governo argentino.
Líderes de movimentos sociais como Juan Grabois – muito próximo de Stédile, chefe do MST brasileiro – acolheram o oferecimento com furor e até com palavrões, segundo o jornal italiano “La Stampa”.
Mulher do ex-ministro de Obras Pública Julio De Vido, ganhou alta posição na Fundação Scholas Occurrentes promovida pelo Pontífice. |
O Papa Francisco acabou recusando o donativo. Porém, desde então, as ligações entre os “ativistas sociais” partícipes dos esquemas de corrupção e os animadores do projeto “Scholas Ocurrentes” estão saindo à luz do dia, mostrando uma assustadora dimensão.
O Pontífice logo procurou tomar distâncias do esquema ideológico de corrupção. De início justificou a recusa do donativo do governo argentino, atribuindo-a a um perigo indesejável de corrupção populista em sua Fundação.
“Temo que possa cair na corrupção”, explicou ele em carta a José María del Corral e Enrique Palmeyro, responsáveis pela “Scholas Ocurrentes”, segundo informou o jornal “La Stampa”
“Isto é um deslizamento suave e quase despercebido”, que depois “contagia”, “se justifica”, e por fim acaba “pior do que no início”, “uma estrada resvaladia e cômoda que nós teríamos razões para justificar, mas que no fim assassina”, completou o Pontífice, segundo o Vatican Insider.
“La Nación”.
Trouxeram muitas surpresas as investigações policiais sobre um formidável esquema de corrupção político-ideológica desvendado com a prisão de um homem-chave que levava milhões de dólares, armas e joias para serem escondidos num mosteiro de religiosas sem reconhecimento canônico.
Uma das peças do esquema seria Alessandra Minnicelli, presidente do Observatório da Responsabilidade Social (Fors) e mulher de Julio de Vido, o ministro-chave no desvio de imensas verbas destinadas a obras públicas durante uma década.
Alessandra Minnicelli foi engajada na diretoria de “Scholas Ocurrentes”, após militar muito tempo no esquerdismo kirchnerista.
Ela exibe em sua propaganda uma foto com o próprio Papa lhe estreitando a mão, por ocasião de atividades da conturbada “Scholas Ocurrentes”, escreveu “Política online”.
Um passado de extorsões, ameaças, desvios de fundos, superfaturamento, bloqueio de portos e negociatas obscuras, que faziam parte da luta promovida pelo kirchnerismo contra os “ricos”, engrossa uma grande lista de denúncias e suspeitas apontando para Enrique Omar Suárez.
Apelidado de “Caballo”, ele também participou de tentativas falidas de golpes de estado, promovidas por militares nacionalistas extremistas, bem como da tomada pela violência do sindicato portuário de Buenos Aires, além de outros desmandos.
Alicia Barrios, autora de 'Mi amigo el padre Jorge' biografia baseada em 17 anos de amizade com o Pontífice, dirigia “Rádio Papa” de Enrique Omar Suárez, alias Caballo”. |
Considerado um símbolo da corrupção bolivariana, “Caballo” acabou tendo seu sindicato submetido a um interventor designado pela Justiça. Em consequência, uma auditoria revelou uma extensa lista de delitos, abusos econômicos, e até o furto de 32 carros.
A deputada Gladys González e diversos empresários denunciaram ameaças de morte instigadas por esse ativista, que se exibe como uma “longa manus” do papa argentino. O caso está nas mãos da Justiça, informou “La Nación”.
Nesta tempestade altamente danosa para a imagem da Igreja e comprometedora do Pontífice, este passou a adotar gestos distensivos em relação ao governo argentino. Oxalá não fique em palavras, mas adote uma mudança de rumos clara, a fim de restaurar a respeitabilidade da Igreja Católica na Argentina.
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