Valladares: testemunha dos mártires cubanos que morreram bradando “Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo” |
Do ponto de vista dos direitos humanos, a viagem a Cuba da presidente brasileira , Sra. Dilma Rousseff, representou um desastre inimaginável para o povo cubano e para suas esperanças de liberdade.
Nesse sentido, a referida viagem poderá inscrever-se no livro negro das vergonhas do nosso tempo e do nosso continente.
Com seu silêncio absoluto sobre a violação sistemática dos direitos de Deus e dos homens na ilha-prisão, há mais de 50 anos, a presidente da maior potência de América Latina e uma das maiores do mundo deu, implicitamente, luz verde para que o regime continue perseguindo impunemente os opositores, matando-os de sede nas prisões, reprimindo as Damas de Branco e mantendo prisioneiros, sem poder entrar e sair do país livremente, 11 milhões de cubanos.
Tambiém nesse sentido, a Sra. Rousseff, uma ex-guerrilheira que nunca se arrependeu publicamente de seu passado, se transformou, a partir de sua recente viagem a Havana, em corresponsável pelos crimes que o regime comunista venha a cometer à frente, estimulado em suas selvagerias por tão gigantesco aval recebido.
Poucos dias antes da chegada da presidente à ilha-prisão, o regime comunista havia deixado morrer de sede e falta de cuidados médicos o jovem opositor Wilman Villar Mendoza, de 31 anos, pai das meninas Geormaris e Wilmari, de 7 e 5 anos. Foi uma morte cruel, que sua esposa, Maritza Pelegrino, membro das Damas de Branco – que está sendo covardemente perseguida e hostilizada pela policía política cubana – qualificou claramente como um “assassinato”.
Com os dissidentes: frio e indiferença de morte. Foto: Wiliam Vilar. |
Dilma Rousseff, por seu lado, simplesmente ignorou a morte de Wilman, como se nada tivesse acontecido. As fotos divulgadas pela Presidência do Brasil a mostram dando generosos sorrisos e cochichos ao ouvido do ditador Raúl Castro, tapando a boca para que ninguém pudesse ler-lhe os lábios. Uma afirmação possível de ser ouvida, segundo o site Globo.com, foi que se encontraria “com muito orgulho” com o sanguinário Fidel Castro.
Pensava-se que o atual ditador, Raúl Castro, retribuiria tão abundante apoio da presidente concedendo visto de saída à jovem blogueira Yoani Sánchez para visitar o Brasil em fevereiro. Com isso, ajudaria a lavar um pouco a cara da Sra. Rousseff, sinalizando ao menos um resultado humanitário concreto em troca de tantas gentilezas e sorrisos aos carcereiros de Cuba. Mesmo sendo uma contrapartida efêmera, serviria publicitariamente para atenuar sua conduta complacente em Havana.
Mas os que assim pensaram se enganaram. O ditador Raúl Castro retribuiu com uma bofetada às generosas dádivas da presidente Rousseff, negando o visto à jovem jornalista Yoani, sem se dar ao trabalho de dar explicações. E colocou de saia justa a mandatária brasileira, deixando-a à mercê das justificadas críticas em seu país.
Com os ditadores marxistas: troca de flores e sorrisos. |
Nós, cubanos, nunca poderemos esquecer que há dez anos esse generoso povo brasileiro abraçou a causa das meninas cubanas Sandra Becerra Jova e Anabel Soneira Antigua, sequestradas pelo regime de Havana, que não permitia a saída de ambas para reunirem-se a seus pais, profissionais cubanos que haviam optado por morar no Brasil, um país livre.
O drama familiar das meninas comoveu de tal forma o povo brasileiro e os meios de comunicação que o regime cubano teve de autorizar a saída de ambas para encontrarem os pais no Brasil. Foi um fato talvez inédito; e os brasileiros conseguiram, com essa peculiar, única e intraduzível maneira de solucionar os problemas com criatividade que chamam de “jeitinho”.
Dez anos depois, quem sabe se esse mesmo povo não poderia de algum modo exteriorizar novamente seus sentimentos de solidariedade para com o povo irmão cubano, que geme em uma ilha-presídio há 50 anos e que ficou tremendamente angustiado pelo respaldo da presidente brasileira a seus carcereiros, para que a jovem Yoani possa ir o quanto antes ao Brasil. E, que se o desejar, que tenha condições de permanecer no Brasil o tempo necessário, sem ter vetado seu direito de opinião.
Pode acender-se então uma luz de esperança nos corações de 11 milhões de cubanos prisioneiros, incluindo tantas e tantas Yoanis, Sandras e Anabeles.
Segundo a versão que recebi de Cuba por Carlos Alberto Montaner, meu companheiro de prisão e hoje brilhante jornalista, Geormaris e Wilmari, as duas filhinhas do preso político assassinado poucos dias antes da chegada da presidente Dilma, não entendem o que aconteceu com seu querido pai. Como a família tem orientação cristã, a mãe explicou que o papai foi para o céu. “E onde é o céu?”, perguntaram . “Muito longe de Cuba. Muito longe”, respondeu a jovem viúva.
É aos artífices, propulsores e mantenedores do inferno cubano, tão longe, mas tão longe do céu, que o silêncio da presidente Dilma favorece, um silêncio próprio do espírito de Pôncio Pilatos.
Há alguns anos o então presidente Lula, numa entrevista a Boris Casoy, me acusou de “picareta” (embusteiro) porque escrevi que ele estava dando seu apoio ao “eixo do mal” castrista. Hoje, a presidente Dilma, objetivamente, por ação ou omissão, passou a liderar no continente um “eixo do silêncio” , sem o qual o “eixo do mal” que asfixia minha querida pátria cubana não poderia sobreviver. Assinalo uma vez mais que, a partir da viagem da presidente Dilma a Havana, a considero corresponsável pelo que acontecer em matéria de violação de direitos aos meus 11 milhões de irmãos que gemem na ilha-prisão.
Espero que sejam respeitados os direitos humanos e as liberdades de todos os blogueiros e twitteiros que publicam e difundem meus artigos nessa nobre Terra de Santa Cruz.
Sobre a próxima visita de Sua Santidade Bento 16 a Cuba, acabo de escrever dois artigos, que podem ser vistos na internet: El viaje de Benedicto 16 a Cuba: esperanzas y preocupaciones; e ”Wilman Villar, infierno cubano y silencio vaticano”.
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Armando Valladares – Escritor, pintor e poeta, padeceu durante 22 anos nos cárceres políticos de Cuba. É autor do best-seller Contra toda a esperança, onde narra o horror das prisões castristas. Foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush. Recebeu a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado. Escreveu numerosos artigos sobre a colaboração eclesiástica com o comunismo cubano e sobre a Ostpolitik vaticana em relação a Cuba.
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