domingo, 25 de março de 2012

Professor de Yale implora a Bento XVI um gesto pelo povo da ilha prisão cubana

Carlos Eire é professor de História e Estudos Religiosos na Universidade de Yale, e autor de “Esperando pela neve em Havana – Confissões de um menino cubano” que ganhou o Prêmio Nacional do Livro nos EUA em 2003.

Ele implorou em nobre e franca carta aberta que S.S. Bento XVI tenha um gesto pelos milhões de cubanos prisioneiros na imensa prisão cubana.

Em especial, ele apelou à sensibilidade do Pontífice pelas “Damas de Branco” espancadas e até impedidas de comparecer à Missa.

Eis o texto integral publicado na National Review online:

Proclamar a liberdade aos cativos

Santíssimo Padre:



Escrevo para Vos agradecer pela vossa próxima visita a Cuba. É comovedor saber que estareis visitando onze milhões de prisioneiros. Afinal de contas, a ilha inteira é uma prisão, e todos os seus habitantes prisioneiros.

Escrevo não somente como cubano, mas como um de vosso rebanho e como professor. Minha disciplina aqui na Universidade de Yale – em homenagem ao primeiro capelão católico – é a cadeira de Estudos Católicos.

Curiosamente, muitos nesta universidade secular pensam que sou o vosso núncio e mantenho contato constante convosco, simplesmente por deter a cadeira católica.

Ostpolitik vaticana estreita mãos tintas de sangue...

Portanto, estou finalmente fazendo aquilo que eles pensam que eu faço frequentemente: escrevendo-Vos.

Todos os prisioneiros em Cuba necessitam desesperadamente de vossa visita. Vossa presença física muito contribuirá para levantar-lhes o espírito e dar-lhes um vislumbre do mundo para além das paredes salobres de sua prisão, talvez um lampejo do próprio reino do céu, especialmente quando celebrardes o sacrifício da Missa e Cristo se fizer presente entre eles.

Devereis naturalmente Vos encontrar com os tiranos, os carcereiros e os carrascos. Isso é inevitável. Pouca coisa mudou desde que Nosso Senhor disse: “Vede, estou vos enviando como ovelhas no meio de lobos”.

Os tiranos e seus sequazes provavelmente assistirão à Missa, como o fizeram quando vosso predecessor, o Venerável João Paulo II, visitou a ilha alguns anos atrás.

Esses homens também necessitam de Vós, no modo desvirtuado deles. Eles esperam que vossa visita lhes concederá uma aura de legitimidade, engordará os seus cofres e enganará o mundo com a ideia de que afinal de contas eles não são tiranos.

Muitos de vossos predecessores lidaram com tais homens em circunstâncias piores. Nós, cubanos, sabemos que aqueles momentos não serão fáceis para Vós. Mas nossas orações hão de Vos acompanhar a cada um de vossos passos, e também a cada aperto de mão.

... enquanto dissidentes pela liberdade seguem morrendo (Wilam Villar)
E estamos confiantes de que o Espírito Santo Vos ajudará a tratar com esses lobos, como Nosso Senhor Jesus Cristo advertiu há cerca de dois mil anos, quando disse aos seus discípulos para serem “astutos como as serpentes, mas inocentes como as pombas”.

Não tenho senão um pedido: por favor, encontrai-Vos com as Damas de Branco enquanto estiverdes em Cuba. Elas próprias o pediram, através de vosso núncio Monsenhor Bruno Musaro, com quem elas se encontraram algumas semanas atrás. Abençoai-as com a vossa presença, por favor, Santíssimo Padre.

Elas são mais corajosas do que se imagina; mas, sujeitas como estão a constantes abusos físicos e mentais, e a constantes ameaças de prisão ou morte, elas têm extrema necessidade de vossa bênção.

Como o sabeis bem, elas são frequentemente atacadas e espancadas, e impedidas de ir à igreja; às vezes são atacadas até mesmo dentro das igrejas. Elas estão vivendo a um alto custo o Evangelho, entregando as suas vidas pelos seus irmãos.

Como a mulher cananeia que gritou a Jesus: “Senhor, ajudai-me!”, ou a mulher que tocou a franja do manto de Jesus à espera de uma cura, elas estão se apresentando, cheias de fé, pedindo contra todas as esperanças.

Professor de Yale pede um gesto só do Pontífice
pelas Damas de Branco espancadas e perseguidas
Numa ilha na qual cada um se tornou um mendigo, elas pedem o mais raro e precioso presente de todos: vossa presença.

E, oh cena que poderia ser vista pelo mundo inteiro! Vós e as Damas de Branco, juntos. Que signo para os sentidos: uma imagem tão inesperada que poderia restaurar a visão dos cegados pelo ódio, ou represar o fluxo de sangue que manchou aquela bela ilha-prisão por tanto tempo. Ela poderia também afugentar os demônios.

Vosso poder como Vigário de Cristo é único. Vós dirigis a atenção do mundo. Vós servis de consciência do mundo.

Vosso reconhecimento público das Damas de Branco poderia mudar o curso da História. Elas rezam para isso; todos nós também rezamos com elas.

Eu, um mendigo, afastado de minha terra 50 anos atrás, uno-me às corajosas Damas no pedido. Pedimos como o homem cego que não cessou de gritar a Jesus, e que o fez tão alto até ser mandado calar.

E pedimos em nome de Jesus, esperando que Vós ouvireis as nossas vozes por cima da sombra feita por aqueles que não querem que sejamos vistos ou ouvidos.



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