quinta-feira, 22 de março de 2012

A viagem de Bento XVI a Cuba: esperanças e preocupações

Valladares: testemunha dos mártires cubanos que morreram
bradando “Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo”
Por Armando F. Valladares

No dia 26 de março, Bento XVI chegará à Cuba para uma visita de três dias.

O ditador Raúl Castro prometeu que o pontífice será recebido com “carinho” e “respeito” e foi rápido em anunciar a libertação de 2.900 presos, dos quais apenas sete presos políticos.

Por seu turno, o porta-voz do Vaticano, P. Federico Lombardi, disse que Bento XVI “quer muito” conhecer Cuba e que a viagem será “certamente” um dos principais eventos de 2012.

É compreensível que o anúncio da visita papal a um país dominado por um regime comunista, especialmente cruel e repressivo, que acaba de completar 53 anos de existência, desperte esperanças de que possa contribuir para a liberação de 11 milhões de cubanos.

No entanto, expectativas semelhantes foram abertas em 1998, por ocasião da visita à Cuba de João Paulo II, mas o regime foi capaz de capitalizar politicamente a visita, usando de publicidade, o que contribuiu para a hierarquia comunista continuar no poder.



Pouco ou nada mudou em termos de liberdade, enquanto o socialismo continuou sendo decepção e frustração que duram até hoje.

Atualmente, a preocupação natural de muitos cubanos na ilha e no exílio é que uma situação semelhante se repita com a segunda viagem de um pontífice à ilha-prisão.

Política vaticana com Cuba: pouco ou nada mudou para os católicos
O secretário da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba (COCC), monsenhor José Félix Pérez Riera, reconheceu que a visita de Bento XVI trará ao povo infeliz de Cuba um “sopro de liberdade”, mas descartou consequências políticas com a visita papal.

Pastores de Cuba são responsáveis por manter, durante as últimas décadas, uma política infeliz e persistente de colaboração com os lobos que oprimem o rebanho.

Os cubanos estão preocupados com o fato de que, devido à perspectiva da viagem papal, o regime está anunciando mudanças “cosméticas” para impressionar ingênuos ou ignorantes sobre a realidade cubana. No fundo, não mudará o natureza criminosa do regime.

Há poucos dias, por exemplo, o governo comunista levantou a possibilidade de flexibilizar a proibição contra o direito de entrar e sair livremente da ilha, aliás, uma das razões pelas quais Cuba continua a ser uma ilha prisão. Mas Raul Castro adiou o tema, refletindo o pensamento da mais recente sessão da Assembleia Nacional, que considera a proibição ponto central para “o destino da Revolução”.

Cubas quer uma religião que acerte os ponteiros com o comunismo
Em termos de liberdade religiosa, a Constituição cubana “reconhece, respeita e garante a liberdade de religião” (artigo 55). Mas pouco ou nada falam sobre a existência do artigo 62 da Constituição, que é responsável por desdizer tudo.

Este referido artigo diz que “nenhuma liberdade” pode ser exercida “contra os objetivos do Estado socialista ou contra a decisão do povo (sic) de construir o socialismo e o comunismo cubano”. E acrescenta, em uma ameaça explícita, constantemente posta em prática, que “a violação deste princípio é punível”.

O regime está disposto a tolerar apenas um tipo de religiosidade que tem efeitos anestésicos sobre a consciência, uma religião que não mostre o comunismo como doutrina diametralmente oposto aos Mandamentos da Lei de Deus.

Esta preocupação de cubanos de dentro e de fora da ilha com as perspectivas da viagem papal se justifica diante das palavras com que Bento XVI recebeu as credenciais do embaixador cubano.

O Papa chegou a elogiar o “internacionalismo” cubana, ignorando que foi ele responsável por tanto sangue e lágrimas derramadas na América Latina e África.

Na ocasião, o Papa destacou como exemplos de supostos benefícios do internacionalismo cubano a “alfabetização” e a “saúde”. No entanto, esses aspectos são bons apenas na propaganda e se constituem como garras satânicas de controle psicológico, mental e social de crianças, jovens e adultos em Cuba e outros países.

Secretário de Estado: visita frequente e bem recebida pelos tiranos
Finalmente, esta preocupação é maior quando se considera o pró-Castro demonstrado pelo cardeal Tarcisio Bertone, o atual secretário de Estado da Santa Sé, durante três viagens à ilha-prisão, a primeira delas como Arcebispo de Génova, e as duas mais recentes na sua qualidade de Secretário de Estado.

Já em sua primeira viagem, o cardeal Bertone, depois de uma longa entrevista com Fidel Castro, teceu elogios a “lucidez notável” do tirano, expressou sua convicção de que ele tinha “grande respeito pela religião” e terminou e deixou muitas pessoas estupefatas ao dizer a ilha é “ totalmente aberta”.

Como fiel católico cubano, eu acho que tenho, não só o direito, mas a obrigação de consciência de divulgar estas considerações.

Eu tenho um compromisso com os jovens mártires católicos que morreram no paredão da prisão de La Cabaña, gritando “Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo”.


Proclamações de fé verdadeira, heroísmo e martírio que ainda ressoam em meus ouvidos – e nos ouvidos de muitos ex-presos políticos sobreviventes de La Cabaña.

Eu tenho, sim, um compromisso a honrar com os meus amigos mortos na prisão de Castro, com a luta pela liberdade do meu país, com a história e, sobretudo, com Deus e com a Virgem de la Caridad del Cobre, Padroeira de Cuba.



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Armando Valladares – Escritor, pintor e poeta, padeceu durante 22 anos nos cárceres políticos de Cuba. É autor do best-seller Contra toda a esperança, onde narra o horror das prisões castristas. Foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU nas administrações Reagan e Bush. Recebeu a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado. Escreveu numerosos artigos sobre a colaboração eclesiástica com o comunismo cubano e sobre a Ostpolitik vaticana em relação a Cuba.


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