segunda-feira, 26 de julho de 2021

Na Argentina, a Sputnik V evoca era de Stalin

Mais de um milhão de idosos está sem a 2ª dose da Sputnik V que a Rússia não manda
Mais de um milhão de idosos está sem a 2ª dose da Sputnik V e a Rússia não manda
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O governo argentino que se prestou à guerra da informação russa deveria estar aplicando a segunda dose da vacina Sputnik V. Mas Moscou não a envia.

Buenos Aires enviou uma carta ao Fundo Russo de Inversão Direta (RDIF, em inglês), expressando seu grave desgosto e reprochando a Moscou pelo acentuado desrespeito dos prazos, denunciou “La Nación”.

Buenos Aires também protagonizou cenas de ríspida tensão quando Xi Jinping atrasou as entregas.

A Casa Rosada está pressionada pela “angustia” da população, especialmente o mais do milhão de idosos que ficaram com os prazos vencidos para a segunda dose.

O governo esquerdista não queria vacinas “estrangeiras”, leia-se americanas, e correu para a oferta russa.

Embaixador russo na Argentina, Dmitry Feoktistov, guarda silêncio
Embaixador russo na Argentina, Dmitry Feoktistov, guarda silêncio
Agora está no desespero e pensou anunciar que o laboratório argentino Richmond produziria a “Sputnik V nacional” com os elementos indispensáveis importados da Rússia. Porém, essa não os mandou.

Na carta a Moscou, Buenos Aires “põe a nu a preferência geopolítica por essa vacina” e “explicita algo obvio: que faz um uso faccioso do plano de vacinação”, escreve “La Nación” patenteando a essência pro-comunista do governo populista.

Também ficou em evidencia que a administração da pandemia é apenas um dos campos em que se desenvolve um conflito ideológico atiçado pelo Kremlin contra Washington.

A carta a Moscou se abre com “uma confissão angustiante”, diz o jornal. “Estamos numa situação muito crítica... após nossa conversa tínhamos a esperança que melhoraria. Mas piorou”, diz.

E implora pelo menos um milhão de segundas doses para os idosos, para os quais só chegou uma parte minoritária.

A Human Vaccine, empresa criada para vender a Sputnik V está no ponto de falir. “No total faltam receber 18.734.185 doses (1 e 2) prometidas e não entregues”, queixa-se a Casa Rosada.

A carta manifesta ainda a vergonha comunistoide de estar recebendo doses dos odiados “outros provedores” ocidentais – leia-se americanos e britânicos – “de forma regular, com cronogramas que cumprem”.

Num outro parágrafo que parece redigido para sensibilizar a Vladimir Putin, ameaça que “se continuam nos ignorando nós vamos atrás dos EUA”, aludindo à “estratégia de vacinação montada com critérios geopolíticos mais do que sanitários”.

Um dos derradeiros cargamentos de Sputni V chegou em junho
Um dos derradeiros carregamentos de Sputnik V chegou em junho
O governo esquerdista diz que já não pode fazer mais nada para beneficiar à Rússia.

O laboratório local contratado para elaborar a “Sputnik V nacional” não cumpre porque a Rússia não manda o material, com grande desprestígio para o presidente Fernández.

Esse prometeu, por interesses eleitorais, que a fabricação local iniciaria no dia 9 de julho, data da independência nacional. E nada!!!

O Estado populista concedeu benefícios alfandegários para as doses russas. E nada!!!

O fim da carta é de chorar: se os russos nem respondem às mensagens peronistas, pelo menos mandem – implora – as vacinas.

Fernández faz tudo o que pode, argumenta, por Putin, pela Sputnik V, mas Moscou o está deixando sem argumentos para se jogar como quer pelo chefe do Kremlin.

Acresce que até os funcionários públicos estão processando legalmente o governo, pondo-o em risco.

Por sua vez, a Rússia após fenomenal marketing sanitário afunda no escândalo. Até a Índia, a quem foi proposto fabricar a vacina russa, acabou julgou irresponsável fazer a Sputnik V porque a Rússia não é capaz de fornecer os elementos para a segunda dose.

O presidente argentino, em verdade, pede a Putin uma coisa que o chefe do Kremlin promete, mas não tem nem para seu próprio povo.

Chegam 3,5 milhões de vacinas Moderna doadas pelos EUA. Fato foi humilhante para o peronismo e para o Kremlin.
Chegam 3,5 milhões de vacinas Moderna doadas pelos EUA.
Fato foi humilhante para o peronismo e para o Kremlin.
Dentro do movimento populista argentino, os caciques querem aproveitar do descalabro para se destruírem uns aos outros sem se importar pela saúde de milhões.

É o caso do ministro Ginés González Garcia, responsável pela lei de aborto, e outros políticos que ocupam ministérios ou governações importantes.

Para “La Nación” o panorama se assemelha às fantasias doentias que enchiam os complôs no tempo da URSS de Stalin.

A conclusão sensata é: não confie na guerra da informação que Moscou promove com suas vacinas e seus correspondentes ocidentais porque são motivados por objetivos ideológicos e de dominação política, sem se interessar por coisas tão importantes como a saúde de povos inteiros.


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