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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Em tempo normal, o Estado cubano promete carne bovina às crianças de até 7 ou até 13 anos, dependendo da região. O drama é que a carne não chega e as famílias precisam procurá-la fora da lei. Tudo piorou com o coronavírus.
A médica Dra. Yasmín [os nomes foram alterados para proteger a identidade] só recebeu a entrega subsidiada de março, pouco antes da pandemia. Tampouco conseguiu no mercado negro ou nos camelôs que oferecem meio quilo por dois dólares, preço alto para a miséria geral, conta longa reportagem do “Clarin”.
E a Dra vive em Camagüey, a maior província de Cuba com melhores rendimentos de gado. Nem perto do Matadouro de Nueva Paz se consegue: vai tudo para o mercado negro.
Todos os dias, alguns casais de bolsa e mochila montam em um caminhão. Eles giram o dia todo descendo em cada povoamento para ver se há algo à venda.
A corrupção do governo está ligada à venda de alimentos básicos no mercado negro. Procurar “carne vermelha” é punido por lei com pesadas multas e perda da carteira de motorista. Mas ali entra a máquina da corrupção do Partido comunista.
A filha de três anos de Alejandro Gutiérrez, que mora a mais de 600 km da capital, só receberia carne até os sete anos, e sempre de segunda classe que dura duas refeições.
Mas, com o coronavírus “agora não há nada”, diz Alejandro.
As medidas contra a pandemia só pioraram o acesso à carne ilegal.
“Nem todos temos dinheiro para acessar o mercado negro de carne”: a queixa se repete nos lares cubanos.

Maribel Montes de Oca voltou para sua terra natal e seu pequeno Darío deixou de receber o quilo de carne prometido pelo Estado. Tampouco o leite.
Ela está gravida e a dieta correspondente também expirará. Maribel terá que ir de compras ao mercado negro para alimentar os filhinhos.
Gestantes, idosos, pessoas com doenças crônicas e crianças, todos deveriam receber a mesma porção. Mas ficam no aguardo perpetuo.
Toda cabeça de gado está numerada no Registro de Gado controlado pelo Estado. O gado só é abatido nos matadouros estaduais; e o resto vem do roubo.
Denia Caraballo e seu marido, camponeses da comunidade Santa Rita em Santiago de Cuba, contam que “até os cavalos nos pegaram”, mas eles tiveram que pagar ao Estado o valor dos animais perdidos.
A carne é tão valorada que o ladrão pode até se fazer matar para leva-la.

Seis décadas depois o país produz apenas 36.363 toneladas de carne desossada por ano, para os 11,2 milhões de habitantes. Mas nos bairros como o de Rossalia Benítez, da nomenklatura comunista a carne fresca é levada até a porta da casa por US$ 20 o quilo. Perto de um salário mínimo, aliás único oficial.
Carla é uma argentina vegana que chegou achando que entraria no paraíso vegetal e seria acolhida como uma salvadora, uma messías do veganismo do mundo.
Nem foi ouvida, é que faltam todos os produtos. Na Ilha da Juventude, outro território protegido, é mais fácil obter peixe do que carne vermelha ou frango.
A carência não é por causa do Covid-19, mas esse é usado para esconder a miséria socialista. Tudo é problemático: os sacos de leite e a carne desaparecem quando as crianças crescem.
Estatísticas dizem que 59% das crianças do mundo não recebem os nutrientes necessários de origem animal.
Mas, Infomed, o site do Ministério da Saúde Pública, garante que Cuba é o único país da América Latina e do Caribe que eliminou a desnutrição infantil grave, graças aos “esforços do governo para melhorar a nutrição das pessoas, especialmente dos grupos mais vulneráveis”.
Esses “esforços” fingem ignorar o mercado negro e os “mais vulneráveis” não incluem a população infantil que fica fora da distribuição planificada pelo Partido Comunista.
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