O brado pela Propriedade Privada nunca se ouviu tão forte |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A paralisação econômica induzida pelo isolamento para cortar o contágio de coronavírus criou graves complicações para as empresas privadas argentinas.
Vítima delas figura um gigante do agronegócio nacional: a empresa Vicentín, quarto maior exportador de produtos agropecuários do país que comercializa a produção de milhares de produtores agrícolas.
A empresa solicitou uma concordata que ficou nas mãos da Justiça. O momento foi explorado pelo presidente Alberto Fernández, de mal disfarçadas tendências bolivarianas, para expropriá-la com um brusco golpe de caneta.
Seus representantes ingressaram a viva força na diretoria da Vicentin, expulsando os donos, desrespeitando as negociações presididas pela Justiça, os legítimos interesses dos credores e das inúmeras cooperativas agropecuárias atingidas pelo caso.
O brutal procedimento confiscatório lembrou imediatamente as violências socialistas do regime da Venezuela.
E a Argentina toda entrou em ebulição com manifestações populares de grande importância nas cidades que giravam em volta da atividade da Vicentin, narrou “La Nación”.
Vista aérea da carreata no 'banderazo' no Obelisco |
O presidente Fernández reagiu sucessivas vezes com petulância e desafio contra os protestos que tomavam conta do país.
Ameaçou ignorar as decisões do juiz competente que mandou desalojar a sede da Vicentín invadida pelos interventores do expropriador êmulo de Maduro.
A indignação popular defendendo o princípio da propriedade privada fez o presidente êmulo dos Chávez, Maduros e Kirchners dar sucessivos passos atrás.
Os interventores-invasores desocuparam a empresa e o juiz de comarca encarregado do caso enfrentou ao presidente e o fez recuar.
A grande maioria dos argentinos compreendeu que um atentado contra a propriedade privada de um gigante em crise, precederia outros ataques e acabaria deslanchando ofensas gerais contra as pequenas e medianas empresas, comércios e patrimônios familiares ou pessoais.
A indignação chegou a um tal ponto que após sucessivos retrocessos, o presidente esquerdista fez um humilhante pedido de perdão ao país pelo caso Vicentín.
“Não sou um doido solto, não ando levando uma caderneta de ordens de expropriações. Pensei que iam sair a festejar”, disse confessando a má avaliação da reação social.
“Errei, acrescentou. Achei que a opinião pública estava mais engajada pela situação de crise”, afirmou à rádio esquerdista La Patriada.
Fernández garantiu que revisou tudo o que disse na hora da expropriação mal sucedida. “Não aconteceu o que eu aguardava. Começaram a me acusar de coisas horríveis. Dizem que eu sou um chavista que só quero expropriar”.
Banderazo diante da Casa Rosada |
Não tendo podido avançar por outras vias apelam a uma enganação para quebrar os particulares e depois lhes pôr o cangaço estatista socialista.
A opinião pública argentina, ordeira e obediente em tudo o que se refere ao combate do covid-19, não está acreditando na arapuca populista. Até muito pelo contrário.
“Estou percebendo que a oposição achou o método da demonização absoluta, dizendo que íamos ser um país como Venezuela”, deplorou Fernández ao chorar o imenso erro político em que tinha incorrido.
Logo apelou às frases demagógicas do Papa Francisco a quem deve a eleição: “O caminho do ódio não conduz a parte alguma”, atribuindo esse mal à maioria dos argentinos e poupando o ódio sectário populista.
Frustrado em matéria de violação da propriedade privada voltou a intérminas negociações sobre a dívida externa que não quer pagar e à reforma do Judiciário, indispensável para tirar seus colegas ideológicos do cárcere.
Entretanto esse leque de iniciativas socializantes eriçou mais a opinião. O presidente pretendeu fazer uma grande exibição de popularidade no patriótico Dia da Bandeira no Monumento da cidade de Rosário, segundo se tira do relato de “La Nación”.
Mas, nas redes sociais correu a voz de se apresentar com a bandeira nacional ao pé do Monumento e outros locais simbólicos.
Intuindo que não conseguiria apoiadores, Fernández se ausentou do ato nesse Monumento, onde os locais estavam repletos de pessoas descontentes.
Os protestos foram unânimes contra as medidas oficiais para lidar com o coronavírus, o assalto da Vicentin, a excarceracão de personagens tristemente célebres da corrupção kirchnerista, em defesa das liberdades de expressão e das garantias para a propriedade privada, entre outros motivos.
O porta-bandeira do Papa Francisco não teve coragem de se apresentar.
Muitas manifestações no mesmo sentido chamadas “banderazo pela liberdade” se deram em mais de 70 localidades do país. O epicentro foi no Obelisco de Buenos Aires.
Colunas de carros particulares se concentraram no obelisco para banderazo |
Em Buenos Aires a multitude marchou para a Casa Rosada e para a residência presidencial de Olivos onde permaneceu durante algumas horas para tremedeira geral da aliança lulo-kirchner-chavista.
As concorridas, rumorosas e coloridas manifestações entre “buzinaços”, cânticos, palmas e “cacerolazos” externaram a inconformidade com a manipulação do combate à epidemia para forçar a socialização do país.
Paz Carla Andrea, empregada doméstica, dizia: “Com a escusa da ‘pandemia’, tampam outras coisas”.
“Respeitem a propriedade privada”, repetiam os cartazes.
Julieta Dicio, de 18 anos e sua mãe, exibiam cartazes dizendo “República sim, máfia não” e reclamavam contra a libertação dos corruptos e a invasão da Vicentin, além do escuro assassinato de um ex-secretário de Cristina Kirchner que confessou como “arrependido” as falcatruas de que foi testemunha.
Na cidade de Córdoba em favor do presidente chegou a haver uma carreata pouco expressiva que pedia a estatização de Vicentin e um demagógico imposto “as grandes fortunas”.
Na cidade de Reconquista, onde está a sede do imenso centro fabril de Vicentín, uma esquálida fila de dez carros foi tudo o que conseguiram os sindicatos afiliados ao governo.
Em Mendoza os cartazes eram claros contra o governo: “Não aos atropelos institucionais”, “Chega de mentiras”, “Não ao autoritarismo K”, etc. levados especialmente por famílias.
Me orgulha ver um povo altivo se unir e bater nos que querem escraviza-los. Me entristece ver que o povo brasileiro não vê que está sob o mesmo jugo e a caminho da escravidão.
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