segunda-feira, 14 de junho de 2021

Peru na beira do precipício comunista

Na eleição presidencial muitos católicos peruanos veem o castigo de Fátima caindo sobre o país
Na eleição presidencial muitos católicos peruanos
temem o castigo de Fátima caindo sobre o país
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Profundamente desiludido com a confusa multidão de candidatos pouco representativos, o eleitorado peruano compareceu desgostoso às urnas na última eleição presidencial.

As sondagens eleitorais veiculadas pela grande imprensa e a chuva de boatos nas redes sociais não esclareceu o deprimente panorama apresentado pela classe política.

As pesquisas, ao invés de esclarecer incógnitas, aprofundavam dúvidas e incertezas, observou “El País”.

A população peruana supera os 32,5 milhões, e os eleitores somavam 25,2 milhões. Mas os candidatos atraiam pobres minorias numa maratona em nenhum deles se destacava como merecedor dos loiros da vitória.

No desencanto geral o vencedor poderia obter um mandato contestado, efêmero e vítima da acentuada polarização direita-esquerda.

“Você conhece alguém que vota em Pedro Castillo?” foi a pergunta das vésperas das eleições, observou o grande jornal espanhol, e entretanto, o desconhecido pelo eleitorado já imagina ter a faixa presidencial enquanto a estreitíssima diferença é recontada.

O candidato surgido da nada é professor de escola e sindicalista. Ele encarna a esquerda radical e foi líder de protestos massivos. Se exibe com chapéu de aba larga típica do sul do país e fez campanha montado a cavalo.

A teatralidade acaba ali, Castillo se rodeia de admiradores da ditadura norte-coreana, de guerrilheiros imitadores da massacre de Pol Pot na Camboja e diz que pretende decapitar o Poder Judiciário.

Ele sabe que o povo peruano é conservador e muito católico. Então em matéria de moral e família se manifesta contra o aborto, o casamento homossexual, a eutanásia e a teoria do gênero.

“É preciso defender a família na escola”, repete, se dizendo preocupado de que “essa ideologia entre na cabeça das crianças”.

O candidato maoista não esconde um apalhaçado apelo pagão e anticristão
O candidato maoista não esconde um apalhaçado apelo pagão e anticristão
Do lado oposto, a pluralidade de candidatos conservadores parecia mais empenhada em se autodestruir numa batalha oca.

Um dos candidatos conservadores chegou à palhaçada de se autodenominar Porky, ao mesmo tempo que ostentava ser celibatário sincero e apaixonado pela Virgem por quem dizia usar diariamente um silício de penitencial.

A candidata Verónika Mendoza apoiada pela turma de Maduro-Morales-Ortega-Fernández e o petismo latino-americano todo se declarava abertamente esquerdista, mas nem teve possibilidade de chegar perto do segundo turno.

A decepção foi grande em seus colegas populistas-socialistas continentais, mas ela acabou se aliando com o maestro marxista desconhecido para apoiá-lo na segunda volta.

Pelo Covid, os hospitais estavam colapsados e centenas de pessoas faziam filas intermináveis para obter oxigênio e a imagem da classe dirigente atingia o fundo do poço.

O Peru, acrescentava “El País”, vive o momento perfeito para a anti-política, em que a credibilidade das instituições é praticamente nula, e 6 dos últimos 7 presidentes caíram por corrupção.

Os partidos tradicionais carecem de peso e os candidatos trocavam de siglas sem ideologia e sem militância na base movidos por interesses econômicos ou religiosos pessoais.

Os ex-presidentes eram a ponta do iceberg da corrupção: prefeitos, juízes, congressistas e promotores sentaram na cadeira dos réus por ilegalidades de todos os tipos.

A sarabanda de corrupções e desmoralizações recíprocas servia entretanto para o comunismo que é repelido pelos peruanos. Ele progrediu sub-repticiamente sob o chapéu do desconhecido mestre marxista.

Mais do que nunca, as circunstâncias clamavam por uma denúncia profunda da parte do alto clero peruano alertando para o imenso perigo da cobra comuno-socialista que se preparava para dar a picada venenosa final.

Museu do Sendero Luminoso. Seus continuadores pedem votar por Castillo
Museu do Sendero Luminoso. Seus continuadores pedem votar por Castillo
Isto, infelizmente, não aconteceu, e a cobra não encontrou o único obstáculo que com o prestígio da religião católica teria barrado o comunismo na hora de pular contra o católico povo peruano.

Porém, no povo peruano não falta inteligência em suas elites cultas nem intuição em suas camadas populares de grande proporção indígena.

Foi assim que mais de 400 peruanos precedidos por um almirante retirado da marinha consignaram uma carta aberta, logo referendada por muitos outros, ao Presidente da Conferência Episcopal, ao arcebispo de Lima e Primaz do Peru e ao Núncio Apostólico da Santa Sé.

E, por intermédio deles, a “todos os bispos e sacerdotes da nação”, segundo foi difundida nas redes sociais peruanas.

A carta patenteava a preocupação pela candidatura do “Perú Libre” de Pedro Castillo “abertamente comunista marxista, leninista, (...) totalitária e anti-cristiana, contra a qual advertiu Nossa Senhora em Fátima, [dizendo] a Rússia espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja”.

Por isso apelavam aos “Mestres do Ensino da Igreja” a condenarem o comunismo incompatível com o catolicismo e a Igreja Católica.

Acrescentavam uma longa lista de condenações pontifícias desse inimigo de Cristo fulminadas pelo Beato Papa Pio IX e seus sucessores até o atual Catecismo da Igreja Católica.

Lembravam também as “centenas de milhares de sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis assassinados pelos comunistas”. Incluindo numerosos mártires da guerrilha marxista peruana do Sendero Luminoso.

Também lembravam a chuva de insultos à Igreja Católica desatada pela militância do partido “Perú Libre” chamando-a de “genocida”, “instrumento propagandístico” e “elemento colonizador”.

E denunciavam a aliança de última hora com a frustrada candidata lulo-chavista promotora e defensora do aborto, do casamento homossexual e da ideologia de gênero.

A carta sublinhava não assumia posições pessoais, mas o “ensinamento oficial da Igreja Católica, que os Sres. bispos e sacerdotes, estão chamados a ensinar e, portanto, obrigados a obedecer e afirmar publicamente, guiando a todos os fiéis, apontando forte e claramente que votar pela candidatura comunista de Pedro Castillo (“Perú Libre”) é PECADO MORTAL e poderia ser causa de excomunhão”.

A respeitosa, mas incisiva missiva, não encontrou o eco vibrante de zelo pela Igreja de Jesus Cristo que exigiam as circunstâncias, o ensino da Igreja e as advertências de Nossa Senhora em Fátima.
Pedro Castillo um desconhecido que reuniu os restos do comunismo mais radica
Pedro Castillo: um desconhecido que reuniu os restos do comunismo mais radical
O silencio da hierarquia peruana diante do Leviatã comunista que avançava enganando um povo entediado e desanimado foi tal vez a mais sinistra nota que marcou a eleição que influenciará todo o continente sul-americano.

Uma nobre exceção deve ser feita. Mons. Gilberto Gómez González, bispo de Abancay, na região andina, quem manifestou seu pasmo e indignação diante da realidade “impossível da Igreja estar apoiando” o candidato comunista segundo noticiou ACIPrensa.

O bispo lembra que dito partido na sua declaração oficial de princípios se define “‘uma organização marxista leninista’”. E que, portanto, nega a existência de Deus, e professa pecaminosamente o ateísmo.

A esperança dos peruanos está posta em Nossa Senhora do Rosário, padroeira do país
A esperança dos peruanos está posta em
Nossa Senhora do Rosário, padroeira do país
Na mesma plataforma partidária o partido de Castillo “incita a lutar para ‘liberar os povos subjugados pela religião’”, prossegue o bispo.

Em 23 de maio, dias antes da votação decisiva, terroristas do Sendero Luminoso massacraram 16 personas, incluídas mulheres e crianças, em San Miguel del Ene, departamento de Junín, onde opera o narcotráfico associado a “Perú Libre”.

Os assassinos espalharam panfletos com frases como “Quem votar a favor de Keiko Fujimori é um traidor assassino do Peru!”. Um grupo de chefes da coca apareceu num vídeo recebidos pelo candidato Castillo que se comprometeu legalizar essa droga.

A Conferência Episcopal Peruana condenou a massacre e emitiu um gemido de condenação do comunismo muito longe do que as circunstâncias exigiam.

Merecem menção mais cinco bispos e diversos sacerdotes que condenaram o socialismo e o comunismo, porém sem o vigor sagrado que a gravidade da situação impunha.

Na recontagem dos votos é de se temer toda espécie de desacordos e tal vez desordens.


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