Forças Armadas intervêm para reprimir famintos ou necessitados de remédios. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) da Venezuela reconheceu – e seus números devem ser revistos para pior – que no primeiro semestre de 2015, 33,1% da população ou 2.434.035 famílias estão em situação de pobreza. E que 9,3% dessas – 83.370 famílias – estão na pobreza extrema.
O salário mínimo integral oficial, que inclui bolsas e bônus para a alimentação, é de 65.056 bolívares (203 reais, pela cotação do mercado paralelo, o único que funciona). Então muitos não conseguem comer durante todo o mês.
Não espanta, pois, que uma multidão enfurecida tenha perseguido o presidente venezuelano Nicolás Maduro, na pequena localidade de Villa Rosa, na turística ilha Margarita, como documentou “Público”, entre outros.
A ilha é um paraíso turístico, mas os hotéis não têm mais papel de toalete, sabonetes e insumos básicos, porque nem os proprietários têm. A frequência dos clientes caiu pela metade.
Ele foi inaugurar à noite um complexo de residências sociais, quando foi rodeado por populares, que ele de início julgou tratar-se de simpatizantes.
Quando se deu conta de que estava a ponto de ser linchado, a única saída que teve o “popular” presidente foi de sair correndo com as próprias pernas. Nas redes sociais foram colocados vídeos com as espantosas cenas.
Maduro foi recebido com uma “caçarolada” e gritos de que o povo tinha fome. Ele tentou falar com a multidão, mas gritaram-lhe obscenidades e começaram a persegui-lo, segundo descreveu o New York Times. Maduro chegou a arrebatar a caçarola de uma mulher que protestava.
A repressão se fez sentir logo. Perto de 30 pessoas foram detidas. Uma delas é Bráulio Jatar, diretor do jornal online Reporte Confidencial, o primeiro a divulgar a notícia e os vídeos da perseguição ao presidente.
Em Caracas, a oposição reuniu por volta de um milhão de pessoas no protesto denominado “Tomada de Caracas”, e anunciou marchas similares em todo o país.
“As panelas vão continuar a fazer-se ouvir, é uma forma de protesto pacífica! O que vão fazer? Tirar as panelas do povo?”, intimou, no Twitter, um dos líderes da oposição, Henrique Capriles.
Degradantes brigas para conseguir alimentos controlados pelo socialismo. |
Compreende-se o que ele quis dizer, mas a paranoia do governo bolivariano pode chegar ao absurdo de confiscar as panelas, como já o fez o maoísmo na China no Salto Adiante.
O ministro da Informação, Luis Marcano, divulgou um vídeo no Twitter de Maduro, apresentando-o com o punho erguido, mandando beijinhos e sendo aplaudido em Margarita.
O mesmo Ministério da Informação divulgou fotos truncadas de anos anteriores como se fossem da manifestação de apoio a Maduro e contra a “Tomada de Caracas”, quando a manifestação governamental reuniu na realidade apenas um punhado de chavistas pagos.
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