As “conversações exploratórias” governamentais com a narcoguerrilha — inauguradas oficialmente no dia 4 de setembro de 2012 com inaudita cobertura publicitária — vêm se revelando uma ofensiva psicológica de desmobilização da opinião pública colombiana para fazê-la aceitar reivindicações da narcoguerrilha nas quais estão previstas, entre outras coisas, a Reforma Agrária e a inserção dos chefes guerrilheiros na vida política do País.
Ou seja, enquanto os colombianos injusta e covardemente agredidos desejam com toda razão a tão almejada paz, os guerrilheiros se servem das conversações em torno da mesma para obterem concessões e vantagens que os levem à conquista do Poder que as armas não lhes deram.
Facilitando-lhes esse jogo — e contrariando a transparência que deve existir numa nação democrática com 45 milhões de habitantes — o governo da Colômbia promoveu em Cuba 30 reuniões secretas com os líderes das Farc, que não possuem sequer 10 mil homens!
A pergunta que fica é: o que acontece a partir de Oslo, não é apenas um show “para inglês ver”?
Para nos darmos conta do cenário em que as referidas conversações se movem e de alguns de seus atores, temos primeiramente Cuba, com seus dois sucessivos sinistros ditadores que tentaram inúmeras vezes implantar o comunismo na Colômbia; e depois a Venezuela, com o conhecido apoio de Hugo Chávez à narcoguerrilha e as ameaças — inclusive bélicas — feitas por ele ao governo colombiano por ocasião da morte do guerrilheiro Raúl Reyes.
Por sua vez, participa das conversações o ex-vice-chanceler Jan Egeland, atual diretor para a Europa do Human Rights Watch, organização reconhecidamente de esquerda.
Ele viveu durante muitos anos na Colômbia e atuou como delegado da ONU nas desastrosas negociações de paz de El Caguán, um ‘santuário’ de 42.000 km2, destinado pelo governo de Andrés Pastrana à guerrilha, no qual o Exército estava proibido de entrar.
Esse ambiente filocomunista em torno das conversações de paz também está presente internamente na Colômbia. Após 14 anos de ausência, membros do Partido Comunista estiveram no Palácio de Nariño, sede do governo, para oferecer sua colaboração ao presidente Santos.
Idêntica colaboração lhe foi oferecida por Gustavo Petro, ex-terrorista e atual prefeito de Bogotá, entusiasta da iniciativa presidencial e que por experiência própria sabe quão maiores são as vantagens auferidas pela guerrilha com a política do que com as armas.
No círculo, a ex-senadora cassada Piedad Córdoba, dirigente da "Marcha Patriótica" (uma espécie de MST colombiano) e muito chegada aos guerrilheiros das Farc |
Um “Kerensky colombiano”?
Embora o presidente Santos tenha colocado na comissão designada para as negociações alguns colaboradores de matiz não esquerdista – inclusive dois generais da reserva –, tal fato não lhe tira sua extrema gravidade, e de algum modo até contribui para tranquilizar a opinião pública.
Mas esta não está tranquila, por exemplo, com as atividades da ex-senadora cassada Piedad Córdoba, dirigente das “Marchas Patrióticas” – uma espécie de MST colombiano – por seus estreitos nexos com as Farc.
Ela recentemente incitou os índios do Cauca a se insurgirem contra o governo. Embora não figure como participante das negociações, já se anunciou que Piedad terá papel relevante no resultado das mesmas.
Também notório é o papel a ser desempenhado pelo ex-sindicalista Luis Eduardo Garzón, ex-prefeito de Bogotá (2004-2007) pelo partido de esquerda Polo Democrático, ao qual pertencia também o atual prefeito. Lucho Garzón, como é conhecido, já participou em anteriores conversações de paz com as guerrilhas em Mainz, na Alemanha, no ano de 1997.
O presidente Santos passará para a História como o "Kerensky colombiano"? |
Essas conversações foram cercadas do maior sigilo e contaram com o apoio das Conferências Episcopais da Alemanha e da Colômbia. Lucho foi agora nomeado Ministro Extraordinário da Mobilização e Diálogos Sociais.
Em entrevista concedida à jornalista Maria Isabel Rueda de “El Tiempo”, ele reconhece não mais existir oxigênio para a luta armada e que atualmente a palavra é mais importante do que as armas.
Fica-se com a forte impressão de que, se as atuais conversações obtiverem o que foi anunciado, depois delas a Colômbia não mais será a mesma.
E se o presidente Santos não puder realizar todas as reformas de índole socialista exigidas pela narcoguerrilha, ele estará em todo caso preparando o caminho para que um próximo governo as faça.&
Um governo com ex-guerrilheiros ocupando cargos políticos diversos e fazendo através da legislação o que não conseguiram até aqui por meio das armas.
Se esse processo chegar ao seu termo, Juan Manuel Santos terá realizado na Colômbia papel idêntico ao desempenhado na Rússia pré-comunista por Alexander Kerensky, que preparou o advento de Lenine. E ao invés do não confessado, mas certamente cobiçado anseio de “Prêmio Nobel da Paz”, poderá passar para a História como o “Kerensky colombiano”.
Heroicos militares presos, terroristas livres
Enquanto isso, a opinião pública acompanha perplexa e apreensiva os acontecimentos. Ela vê de um lado as Farc — apoiadas por Cuba e pela Venezuela — serem tratadas como amigas, e de outro lado inúmeros militares sendo condenados a altas penas de prisão, muitas vezes com base em testemunhas falsas. Segundo informa a já citada jornalista Maria Isabel Rueda no artigo “Ordem na casa” , “cerca de 17.000 militares colombianos estão atualmente condenados ou detidos”. Sim, dezessete mil!
Ou seja, o número de militares nessa situação é o dobro do contingente de guerrilheiros das Farc, estimados em 8.500!
A mais recente condenação, a 25 anos de prisão, foi a do general Rito Alejo del Río. Embora o próprio juiz tenha reconhecido que ele não cometeu nenhum crime, condenou-o sob a alegação de não ter protegido um camponês morto por paramilitares na imensa área sob a sua jurisdição.
Cumpre lembrar que Del Río, preso há mais de quatro anos, foi destituído de seu cargo pelo ex-presidente Andrés Pastrana por exigência das Farc, que pediram a sua cabeça como condição para as conversações de paz de El Caguán!
Apesar de preso, o general continua a incutir medo aos guerrilheiros. ‘Timochenko’, líder máximo das Farc, o atacou durante o discurso que pronunciou no dia 4 de setembro em Havana, pouco depois de o presidente Santos ter anunciado o início das negociações.
Um herói nacional em análoga situação é o famoso coronel Plazas. Ele se celebrizou quando em 9 de novembro de 1985 entrou com seus tanques no Palácio de Justiça ocupado por terroristas que desejavam pôr a Colômbia de joelhos.
Como não o conseguiram, atearam fogo ao Palácio. Enquanto remanescentes ou seguidores desses inimigos da Nação ocupam hoje prestigiosos cargos públicos, o coronel foi condenado a 20 anos de prisão, acusado de usar força excessiva e ser responsável pelo desaparecimento de algumas pessoas durante a operação. Tudo com base em uma testemunha que se provou ter sido falsa!
Comandos do exército da Colômbia |
Com seu nome desconhecido do grande público por razões de segurança, ele está hoje transformado em “major-padeiro”, vendendo seus pães... Não espantaria se porventura a causa de sua condenação tiver sido a de “enganar a ‘boa fé’ dos guerrilheiros”, fazendo-os embarcar em avião do Exército supondo tratar-se de uma aeronave da Cruz Vermelha...
Mas é assim que trata os seus heróis uma administração tão solícita em negociar com terroristas assassinos, os quais estão prestes a fazer embarcar na sua imensa Aeronave Vermelha com a inscrição “Conversações de Paz”, o atual governo e o todo povo colombiano!
Mais escandaloso, por fim, é o caso do general Jaime Uscátegui. Encontra-se preso há 13 anos, tendo sido condenado a uma pena de 40 anos por um crime cometido por paramilitares em uma área que nem sequer era de sua jurisdição!
Crianças em cativeiro, jovens cegos ou mutilados
Um dos aspectos da atual realidade colombiana que não pode ser esquecido é o relativo à situação dos reféns que jazem no fundo das selvas em condições inferiores à dos mais desditados escravos.
E, entre eles, cumpre lembrar as infelizes crianças de ambos os sexos que foram sequestradas para engrossar as diminuídas fileiras dos mesmos terroristas que se encontram agora nas mesas de negociações.
Contra este fato clamoroso, o qual por si só deveria ser motivo mais do que suficiente para suspender toda e qualquer conversação, ninguém protesta!
Outro terrível aspecto é o longo cortejo de jovens que andam pelas ruas apoiados numa bengala ou na companhia de outrem, ou que estão no Hospital Militar. Eles foram atingidos por minas das Farc e ficaram cegos.
Apesar de sua enorme desgraça, caminham alegres e decididos, pois embora tenham perdido a visão física, mantiveram incólume o moral e a clareza mental que parecem faltar a seus governantes. Os há também inúmeros que perderam a(s) perna(s) ou o(s) braço(s), mas que igualmente não perderam o rumo nem a confiança em Deus.
Uns e outros – seu número oscila anualmente de 800 a 1200! – estão convencidos de que do Céu rezam por eles os que tombaram na luta contra os sequazes de Karl Marx e de Fidel Castro.
Teologia da Libertação — o vergonhoso papel da esquerda “católica”
Enquanto nas relações do governo com a narcoguerrilha reinam a confiança e o desejo de acordo, a ponto de ambos declararem que não se levantarão da mesa de negociações enquanto a paz não tiver sido selada (satisfazendo a guerrilha, entre outras coisas, com uma Reforma Agrária socialista e com preciosos privilégios políticos, como já assinalamos), em relação aos militares rondam a suspicácia, a animadversão e a prisão!
O jesuíta Javier Giraldo Moreno simpatizante do comunismo cubano |
Ante tal situação, lamentamos ver a Conferência Episcopal mais uma vez sair à frente... para apoiar a temerária iniciativa presidencial de negociação com a narcoguerrilha. No que é superada somente por alguns sacerdotes jesuítas, entre os quais se destaca o padre Javier Giraldo Moreno.
Há 40 anos à frente do Centro de Investigação e Educação Popular — CINEP, um think tank da “Teologia da Libertação”, padre Giraldo não oculta sua simpatia pelo regime comunista cubano e é um dos principais inimigos dos militares. Vejamos a seguinte notícia, publicada em 15 de agosto de 2012:
“O padre Giraldo celebrou os 86 anos de Fidel Castro — O padre jesuíta Javier Giraldo juntou-se a vários colombianos para celebrar o aniversário número 86 de Fidel Castro no auditório da Associação Distrital de Educadores de Bogotá (ADE). O defensor dos Direitos Humanos celebrou uma eucaristia ambientada com a bandeira de Cuba e imagens do líder. Assistiram funcionários da Prefeitura e diplomatas da embaixada de Cuba na Colômbia”
Esse incontido admirador, não do grande Santo Inácio de Loyola, mas de Fidel Castro, o é também do ex-guerrilheiro padre Camilo Torres, de cuja obra se diz continuador. No tocante à superioridade da luta ideológica sobre a bélica, ele pensa, aliás, do mesmo modo daqueles que querem trazer para essa arena os hoje enfraquecidos líderes guerrilheiros. Sob o título “O polêmico Padre Javier Giraldo”, ele é assim descrito no site do CINEP, ligado aos jesuítas:
“Desde aquele encontro distante [com o padre Camilo Torres], o padre Giraldo soube que sua vida estaria dedicada a defender os oprimidos. Como todos os colombianos da época, viveu a incerteza de não saber o que havia acontecido ao desaparecer Torres da cena pública, em dezembro de 1965, até quando se soube em janeiro do ano seguinte, que havia ingressado no ELN [Exército de Libertação Nacional]. Em 16 de fevereiro desse ano morreu em seu primeiro combate. Javier entendeu desde então que continuaria sua obra, mas por um caminho diferente do das armas. Seguiria os passos dos padres de Golconda, de monsenhor Valencia Cano e de tantos outros comprometidos com a Teologia da Libertação”.
Quanto ao alcance dessa via de pacificação, cumpre recordar aqui o que o petista José Dirceu certa vez escreveu como tendo ouvido de Fidel Castro: o ditador disse que teria evitado muitos erros, se no início da revolução cubana tivesse conhecido a “Teologia da Libertação”.
No momento em que a Rússia fala em reinstalar bases militares em Cuba e o câncer bolivariano deita metástases no Continente, a Colômbia está numa encruzilhada: ou continua fiel às suas tradições católicas e enfrenta a narcoguerrilha, ou se deixa manipular por sinistros complôs orquestrados sob o bafejo de Cuba, da Venezuela e da “Teologia da Libertação” para empurrá-la à situação em que hoje gemem os países dominados pela tirania comunista.
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