segunda-feira, 15 de junho de 2020

Cuba, “a Revolução está perdida”

Miséria e desinteresse pela Revolução em Havana.
Miséria e desinteresse pela Revolução em Havana.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O povo cubano não acredita mais no tal futuro melhor, prometido desde a implantação da Revolução comunista na ilha, conclui longa reportagem do “The New York Times Weekly International”.

Exemplo paradigmático é o de Caridad Limonta, militante de alto escalão no Partido Comunista, além de ter sido vice-ministra da indústria ligeira.

Ela devotou uma fé absoluta à Revolução, e acreditou que F. Castro acabaria com as desigualdades e criaria uma nova e próspera Cuba.

Quando jovem foi enviada a uma universidade soviética num transatlântico lotado de alunos cubanos, todos padronizados, vestidos com as mesmas roupas e utilizando as mesmas malas.

Voltando à Havana em 1981, aplicou o que tinha apreendido na Rússia, e teve de fechar os olhos para os defeitos do regime.

Assim, chegou a vice-ministra, ademais de ter ocupado postos influentes no Partido. Mas ficou espantada ao ver dezenas de milhares de cubanos –los balseros – arriscando suas vidas para fugir da ilha, outrora Pérola das Antilhas.

Cada dia, ela percebia a Revolução envelhecer. As contradições entre a realidade e as promessas se tornaram incontornáveis.

Os hospitais horrivelmente deficientes, paralíticos aguardavam meses e até anos por uma cadeira de rodas.

Caridad Limonta deixou o Partido Comunista e virou 'microcapitalista' costurando berços com restos de serviços de cama dos hotéis para estrangeiros.
Caridad Limonta deixou o Partido Comunista e virou 'microcapitalista'
costurando berços com restos de serviços de cama dos hotéis para estrangeiros.
Os equipamentos hospitalares se desfaziam de podres, não havia remédios, enquanto médicos e enfermeiras viviam de subornos.

Quando ela completou 48 anos de idade teve de ser levada com urgência ao hospital que lhe designou a planificação socialista, na sua cidade Guanabacoa.

Vendo-a em estado grave, os médicos a transferiram para o principal centro de cardiologia de Cuba.

Recebeu o marca-passos de que necessitava, mas só porque tinha um alto cargo na ditadura. A cirurgia à qual foi submetida lhe causou uma infecção quase mortal que a deixou marcada para a vida toda.

Com isso, renunciou ao emprego, à militância no Partido, devolveu o carro que lhe o Estado lhe havia emprestado. Ainda mais. Renunciou à forma de macumba cubana que ela havia praticado como religião, sem obstáculos por parte do regime que se afirma ateu.

Ela via que o apoio à utopia revolucionária também se definhava em muitos outros colegas de outrora. Se ela se queixasse, seria imediatamente perseguida.

Sua opção era fugir, ainda que de modo muito precário, de balsa para a Flórida ou engolir tudo calada, e só pensar em sobreviver.

Recebia arroz e feijão subsidiados, além de uma pensão equivalente a 60 reais mensais, que lhe garantiam uma vida na miséria. Apelou para uma velha máquina de costurar, legado de sua mãe.

Colhia os lençóis descartados pelos hotéis para estrangeiros e montava berços de recém nascidos que vendia secretamente por poucos dólares.

Cautelosamente chegou a ser uma das primeiras ‘capitalistas legais’, tendo sido apresentada com outros tantos do ramo a Barack Obama, quando visitou Havana em 2016, para demonstrar que Cuba respondia à ‘abertura’ propalada.

Mural estragado em Havana encarna carunchamento da Revolução comunista.
Mural estragado em Havana encarna carunchamento da Revolução comunista.
Mas a bonança durou pouco. Ela aguardava que em 2018 viria um presidente que não se chamasse Castro, e fizesse a prometida nova Constituição.

Grande desilusão. Pelo fim de 2018, o filho se somou a uma onda de jovens que fugiu de Cuba. Caridad Limonta precisava da atenção médica gratuita e não podia sair de Cuba.

Seguia levando presentes para o médico como todos os cubanos que querem ser tratados.

Nela, o principal mudou: ela ficou farta da mentira socialista e está certa de que o futuro não será melhor na ilha.

Psicologicamente achatados, com o coração calejado por décadas de privações, os cubanos que ficaram na ilha-prisão acabaram por se adaptar às adversidades, resignando-se à infelicidade. Assim perderam a vontade de uma mudança para melhor.

Nos EUA, os candidatos democratas prometem retomar a frustrada política pró-castrista inaugurada por Obama.

Do outro lado, as posturas conservadoras que ficam na agressividade verbal, mas não acabam com a ditadura, não ajudam aos cubanos como Limonta.

O regime se vinga sobre eles alegando revidar ao que vem dos EUA.

Os homens importantes da nomenklatura comunista, chamem-se Castro ou outro nome, até o novo presidente Miguel Díaz-Canel, aproveitam para se refestelar com o pouco que a ilha tem ou consegue, como bons feitores da “igualdade socialista e revolucionária”.

A reportagem do “The New York Times Weekly International” conclui que “Limonta agora aceita algo que nunca imaginou: para ela, “a Revolução está perdida”.



2 comentários:

  1. DEVIAM MANDAR O PAPA PARA CUBA, ELE GOSTA ...

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  2. aguardemos o fim dos tempos prometido nas escrituras, e que deve estar chegando em mais breve do que se poderia imaginar há alguns meses...

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