Desespero da população na Venezuela |
No Brasil bate-se nas panelas, mas na Venezuela a pergunta é se ainda haverá panelas na loja.
“Todo dia o caos tem uma forma diversa, mas a loucura cresce” – eis como o escritor Leonardo Padrón resumiu a ofensiva chavista contra as empresas privadas e a criação de sovietes populares militares “para ganhar a batalha econômica pelo povo”.
O presidente Nicolás Maduro mandou prender vários diretores da rede de supermercados Día a Día. Eles foram se reunir no cárcere com os diretores da rede Farmatodo, intervinda pouco antes.
A retórica populista se torna leninista: os empresários estavam “conspirando”, “irritando o povo” e “procurando criar a sensação de filas” com “uma tática guerrilheira”.
O país está saturado pelo desabastecimento, pela inflação, pela ausência de produtos básicos. O detergente substitui o shampoo para o cabelo. Há filas para tudo, especialmente nos supermercados estatais. O governo tentou confinar as filas em parkings ou porões, perseguindo até quem tira uma foto.
Jorge Roig, presidente da federação de produtores Fedecámaras, defendeu a rede Farmatodo, lembrando que há 96 anos ela trabalha no país, enquanto as empresas fantasmas de membros do governo desviaram mais de 20 bilhões de dólares só em 2013.
O presidente da associação de hospitais privados já foi preso pelo “crime” de denunciar a falta de material básico nos hospitais.
Conseguir alimentos ou produtos de higiene passou a ser uma façanha quotidiana na Venezuela |
Mas as vozes silenciam quando alguém exclama em alta voz palavras de ordem como “Maduro é o milagre que o comandante Chávez nos legou”, descreveu o jornal “El Mundo” de Madri.
Dormindo numa estação de metrô de Madri, o venezuelano Andrés, que chegou para fazer um master de Administração e Direção de Empresas, contou a “El Mundo” que leva tudo o que tem na mochila andando por todos os lados.
Ele é um dos 2.500 estudantes venezuelanos na Espanha que tiveram a transferência de seu dinheiro cortada. Os jovens venezuelanos no exterior já não podem acessar suas contas bancárias. Endividados, eles correm o risco de perder os cursos por inadimplência.
“Não é que não tenhamos dinheiro, é que não nos deixam acessá-lo”, explica Carlos Moreno, estudante de pós graduação em Salt Lake City (EUA).
Os jovens descontentes não revelam sua identidade, pois temem por si e por suas famílias que ficaram na Venezuela.
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“Houve casos de prostituição, alguns comem só uma vez por dia”, denunciaram os jovens.
As crises de saúde e a subalimentação dos estudantes impressionaram a reitora da Universidade de Salt Lake, que concedeu a cinco deles, que iam ser deportados, um adiamento dos pagamentos por razões “humanitárias”.
Na Espanha, a Universidade de Alcalá (UAH) fez algo parecido com 26 alunos em situação análoga.
A comunidade venezuelana de Toronto (Canadá) recolheu alimentos e roupa para que Paulina pudesse passar o duro inverno.
Há cinco meses que ela não pode acessar seu dinheiro. “Até dezembro, em meu college havia 400 colegas na mesma situação e em janeiro já são muitos mais”, disse ela, que está cuidando de crianças para chegar ao fim do mês.
A embaixada venezuelana na Espanha não oferece nada e não responde às perguntas da imprensa. E “quem for se queixar, é investigado imediatamente”, diz Moreno.
Cortes nas transferências de divisas compromete o futuro dos melhores estudantes venezuelanos no exterior. |
Ele pretende levar o caso até o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Muitos acham que é uma ilusão, pois esses órgãos só são sensíveis a causas revolucionárias ou anticristãs.
“Se alguém falar mais forte, pode sofrer consequências que vão além da revogação definitiva das transferências. Nesta semana foi revelada a existência de uma terrível prisão no centro de Caracas, bem chamada de ‘o túmulo’”, acrescenta.
O terror vai descendo como um sinistro véu: é o verdadeiro rosto do “socialismo do século XXI”, que se exibe sem máscara diante suas vítimas.
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