segunda-feira, 21 de maio de 2012

Desastre petrolífero deixa capital estadual venezuelana sem água

Maturin (400.000 habitantes) ficou sem agua potável
Maturin (400.000 habitantes) ficou sem agua potável
A infraestrutura produtora de petróleo na Venezuela está caindo aos pedaços por falta de manutenção. Os técnicos da estatal de petróleo PDVSA foram substituídos por adeptos fanatizados do ditador Hugo Chávez.

Em 4 de fevereiro aconteceu um acidente emblemático, noticiado pelo diário “La Croix”, de Paris. Na cidade de Jusepin um oleoduto rachou, derramando cerca de 80 mil barris de petróleo (12 milhões de litros), segundo o biólogo Antonio Machado, especialista em ecologia tropical da Universidade Central da Venezuela, a maior do país.

O óleo caiu no rio Guarapiche, provocando a “maior catástrofe mundial acontecida em água doce”, segundo informaram a Rede das Sociedades Científicas Venezuelanas e especialistas de diversos ramos. O acidente foi apenas menor que o da muito noticiada “maré negra” do Golfo de México, EUA, em 2010.


O governo silenciou a catástrofe. A PDVSA demorou quase um dia para conter o vazamento, disse José Bodas, presidente da Federação dos Trabalhadores do Petróleo Venezuelano – FUTPV. O ministro de Meio Ambiente desmentiu as informações, embora reconhecendo que o petróleo vazou “durante vinte horas”.

“Todo o rio Guarapiche estava preto”, contou Maria, a única habitante de Jusepin que teve coragem de falar. De 4 de fevereiro a 18 março, a cidade de Maturin (400.000 habitantes), capital do Estado de Monagas, ficou sem água potável porque as fontes estavam contaminadas pelo vazamento.

Os poderes públicos organizaram rondas de caminhões-cisterna que percorriam a cidade enchendo baldes de seus habitantes.

O ministro do Meio Ambiente, Alejandro Hitcher, ameaçou as autoridades locais dizendo que se não resolvessem a crise, “nós mesmos tomaremos conta das instalações e levaremos água à cidade”.

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O governo nacional impediu que especialistas internacionais analisassem a água. O governador do Estado, Gregorio Briceño, foi suspenso do partido chavista por “fraqueza ideológica” ao não autorizar a retirada de água do rio Guarapiche para consumo humano por temor de que pudesse ser nociva à saúde da população. A rádio local, “Caicareña 100.5FM”, pertencente a seu irmão, foi fechada como punição.

Oficialmente tudo foi solucionado. Contudo, quinze dias depois, em San Vicente, não longe do local do desastre, o operário agrícola Daniel Rodriguez sorria quando alguém lhe falava da versão oficial difundida pela TV. “O rio continua contaminado. Não ficou sequer um peixe”, disse ele. Daniel não rega mais suas plantações de tomate e de milho.

Em Caripito, sobre o rio Colorado, onde deságua o Guarapiche, entre 2.400 e 3.000 pessoas organizadas em equipes enchiam sacas com galhos pingando petróleo. “Temos que colher tudo o que está boiando e poluído”, explicava Elia Hernandez. “De início nós enchemos bolsas inteiras com peixes mortos”.

Quando desce a maré, aparecem as raízes enegrecidas das árvores. Segundo o biólogo Antonio Machado, “grande parte do petróleo ficou nos fundos e as plantas atingidas estragam por sua vez toda a água”.

O governo chavista tentou encobrir a inépcia socialista apelando ao álibi de desconhecidas “sabotagens”. No dia 21 de março, a oposição denunciou a má qualidade da água em Caracas, mas o presidente Hugo Chávez respondeu tratar-se de uma “campanha terrorista”.

Por essas vias, a Venezuela, outrora um dos países mais ricos da América Latina, vai afundando como Cuba na miséria, e dilapidando a fonte natural de seu fulgurante enriquecimento.



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