Papa Francisco e Cristina Kirchner com quadro de Eva Perón de fundo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O presidente da Conferência Episcopal Argentina saiu a defender Papa Francisco das críticas que o apontam como apoiador da chapa presidencial esquerdista que postula Alberto Fernandez para presidente e Cristina Kirchner para vice, nas eleições de outubro de 2019 na Argentina.
“Eles quere apresentar o Papa como um torcedor de uma facção” disse monsenhor Oscar Ojea à agência Telam, citado por “Clarín”.
O bispo Ojea interveio após o programa “Jornalismo para Todos” da TV Canal 13. Nele foi reproduzido o grampo de uma conversa entre Eduardo Valdes, ex-embaixador kirchnerista no Vaticano e Juan Pablo Schiavi, preso pela Tragédia de Once, acidente ferroviário que causou a morte de 52 pessoas pela incúria kirchnerista na infraestrutura estatal.
A conversa incluiu o Papa Francisco na “Operação Volver” com a qual o kirchnerismo pretenderia ganhar as eleições presidenciais de outubro.
Valdes foi um diplomata na Santa Sé muito próximo do Pontífice e de Cristina Kirchner e agora é candidato a deputado.
Poucos dias antes, o candidato presidencial Alberto Fernandez divulgou vídeo onde Francisco I fala de “manipulação do Judiciário” aludindo aos julgamentos penais em que estão envolvidos Cristina Kirchner e vários de seus ex-ministros e “testaferros” que prestaram seu nomes para encobrir falcatruas.
Cristina Kirchner reafirma ser uma política perseguida. Ela acumula 13 processamentos, 7 pedidos de prisão preventiva e mais duas ordens de prisão – uma ratificada pela Corte Suprema – não efetivadas pelo fato de ter imunidade como senadora.
Florencia Kirchner alega ter doença provocada pelas convocações do Poder Judiciário e que só pode ser curada em Cuba |
Cristina tenta explorar emotivamente a saúde da filha mas encontra pouca credibilidade pública.
Ela solicita repetidamente licença à Justiça para visitar a filha em Cuba, onde também se tratou Hugo Chávez.
O bispo de San Isidro interpretou a entrevista do presidente dos bispos e avançou que Francisco pensaria visitar finalmente ao país entre “o final de 2020 ou durante 2021”.
“Há quem diga que o Papa não quer vir para a Argentina. Ele me disse que não pode vir imediatamente, mas que, talvez, até o final de 2020 ou durante 2021, seria possível que estivesse visitando o país”, acrescentou Mons. Ojea.
Esclareceu que “não há um anúncio formal ou uma data específica”, mas o “desejo do Santo Padre que os argentinos sabem que ele já está pensando em uma visita pastoral”.
Apesar das muitas promessas insinuadas, o Papa Francisco não foi à Argentina durante os 4 anos de governo de Mauricio Macri. Tampouco ocultou seu mal humor com o presidente anti-populista em viagem protocolar ao Vaticano.
Na visita “ad limina” de todos os bispos argentinos entre abril e maio a Roma, o Papa teria avançado a sua vontade de realizar o retorno para casa já tão atrasado.
Naqueles meses, a mídia e enquetes de opinião falavam de uma eventual vitória de Cristina Kirchner. Mas, depois as enquetes foram mudando, eleições estaduais não deram os resultados esperados, ela retirou a candidatura e a perspectiva da turnê pontifícia esfriou bastante.
Cristina Kirchner entre 13 indiciados por 'organização criminosa' criada para 'subtrair fundos públicos' |
Mas o otimismo de uma vitória kirchnerista, ainda que como vice-presidente, está se esvaindo e também definha a perspectiva da visita.
Em pleno processo eleitoral, Cristina Kirchner e ex-ministros e laranjas respondem a processo público por infindáveis desvios de dinheiro destinado a obras públicas, coimas e subornos.
Nesse contexto o Papa Francisco falou de “manipulação do Poder Judicial visando a perseguição política”. A ex-presidente e seu séquito comemoraram essas palavras qualificando-as de “imperdíveis”, como noticiou entre outros “Clarin”.
O Papa falou num encontro com juízes latinoamericanos, e aproveitou “para lhes manifestar minha preocupação por uma nova forma de intervenção exógena nos cenários políticos a través do uso indevido de procedimentos legais e tipificações judiciárias”.
Entre eles incluiu “o lawfare que além de pôr em sério risco a democracia dos países, geralmente é utilizado para minar os processos políticos emergentes e propender à violação sistemática dos direitos sociais. (...) é fundamental detectar e neutralizar esse tipo de práticas que resultam da atividade judiciária impropria combinada com operações multimediáticas paralelas”.
O “lawfare”, ou guerra jurídica é o conceito continuamente usado pelo kirchnerismo para explicar os processos em que está indiciada a ex-mandataria. Ela o usou também em conversa com Dilma Rousseff.
Audiência para ouvir acusados. Cristina Kirchner (no fundo), ex-ministros e 'laranjas' De Vido Báez e Carlos Kirchner entre outros |
O “lawfare” é intensamente usado nas ditaduras de esquerda como a chinesa ou a russa, ou também as latino-americanas como a venezuelana. Mas, o pontífice não acostuma mencioná-las.
No telefonema, Schiavi pede enviar “uma mensagem a nosso amigo de Roma. (...) acredito que é o único que pode dizer algumas cosas que ponham ordem na grande frente opositora que precisamos. É o único que tem poder”, transcreveu “Clarín”.
E Valdés confirmou: “De fato, já está fazendo”.
Valdés também lamentou que não tenha influência sobre os políticos opositores: “sobre eles, ele não tem influência”.
Valdés e Schiavi debateram pelo agitador dos “movimentos sociais” muito próximo do Papa e de Cristina: Juan Grabois, líder da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP).
Eles concordaram que teria um papel positivo nesta campanha presidencial mas que aspiraria ao ministério de Economia e promoveria o aborto.
Padres das favelas defende posição adotada pelo Papa Francisco. |
A agrupação de “curas villeros” (“padres das favelas”) liderada pelo bispo auxiliar de Buenos Aires, Gustavo Carrara, militante nas causas da esquerda também defendeu a omissão do Pontífice e cobriu de impropérios àqueles que reclamam por sua ausência, escreveu “Clarín”.
Qualificou-os de “mentir, mentir e mentir”, de estar “longe de escutar com sinceridade e com um mínimo de honestidade intelectual”, de ser dominados pelos “próprios interesses ideológicos”, de “constante tergiversação da mensagem papal”, e outros slogans das esquerdas.
Deram a entender que seu apoio na prática às esquerdas “não é uma ideologia partidista, mas a própria essência do Evangelho e, portanto, da doutrina social da Igreja”, porém à “luz dos pobres”. Aliás, como prega a Teologia da Libertação em suas variadas formas.
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