segunda-feira, 8 de julho de 2019

Kirchnerismo tenta colar a imagen do Papa na chapa partidária

Papa Francisco e Cristina Kirchner com quadro de Eva Perón de fundo
Papa Francisco e Cristina Kirchner com quadro de Eva Perón de fundo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O presidente da Conferência Episcopal Argentina saiu a defender Papa Francisco das críticas que o apontam como apoiador da chapa presidencial esquerdista que postula Alberto Fernandez para presidente e Cristina Kirchner para vice, nas eleições de outubro de 2019 na Argentina.

“Eles quere apresentar o Papa como um torcedor de uma facção” disse monsenhor Oscar Ojea à agência Telam, citado por “Clarín”.

O bispo Ojea interveio após o programa “Jornalismo para Todos” da TV Canal 13. Nele foi reproduzido o grampo de uma conversa entre Eduardo Valdes, ex-embaixador kirchnerista no Vaticano e Juan Pablo Schiavi, preso pela Tragédia de Once, acidente ferroviário que causou a morte de 52 pessoas pela incúria kirchnerista na infraestrutura estatal.



A conversa incluiu o Papa Francisco na “Operação Volver” com a qual o kirchnerismo pretenderia ganhar as eleições presidenciais de outubro.

Valdes foi um diplomata na Santa Sé muito próximo do Pontífice e de Cristina Kirchner e agora é candidato a deputado.

Poucos dias antes, o candidato presidencial Alberto Fernandez divulgou vídeo onde Francisco I fala de “manipulação do Judiciário” aludindo aos julgamentos penais em que estão envolvidos Cristina Kirchner e vários de seus ex-ministros e “testaferros” que prestaram seu nomes para encobrir falcatruas.

Cristina Kirchner reafirma ser uma política perseguida. Ela acumula 13 processamentos, 7 pedidos de prisão preventiva e mais duas ordens de prisão – uma ratificada pela Corte Suprema – não efetivadas pelo fato de ter imunidade como senadora.

Florencia Kirchner alega ter doença provocada pelas convocações do Poder Judiciário e que só pode ser curada em Cuba
Florencia Kirchner alega ter doença
provocada pelas convocações do Poder Judiciário
e que só pode ser curada em Cuba
A filha Florencia está em Cuba se tratando de uma estranha doença que teria pego em consequência dos repetidos comparecimentos ante a Justiça enquanto suspeita de testaferro de fraudes dos pais quando eram presidentes.

Cristina tenta explorar emotivamente a saúde da filha mas encontra pouca credibilidade pública.

Ela solicita repetidamente licença à Justiça para visitar a filha em Cuba, onde também se tratou Hugo Chávez.

O bispo de San Isidro interpretou a entrevista do presidente dos bispos e avançou que Francisco pensaria visitar finalmente ao país entre “o final de 2020 ou durante 2021”.

“Há quem diga que o Papa não quer vir para a Argentina. Ele me disse que não pode vir imediatamente, mas que, talvez, até o final de 2020 ou durante 2021, seria possível que estivesse visitando o país”, acrescentou Mons. Ojea.

Esclareceu que “não há um anúncio formal ou uma data específica”, mas o “desejo do Santo Padre que os argentinos sabem que ele já está pensando em uma visita pastoral”.

Apesar das muitas promessas insinuadas, o Papa Francisco não foi à Argentina durante os 4 anos de governo de Mauricio Macri. Tampouco ocultou seu mal humor com o presidente anti-populista em viagem protocolar ao Vaticano.

Na visita “ad limina” de todos os bispos argentinos entre abril e maio a Roma, o Papa teria avançado a sua vontade de realizar o retorno para casa já tão atrasado.

Naqueles meses, a mídia e enquetes de opinião falavam de uma eventual vitória de Cristina Kirchner. Mas, depois as enquetes foram mudando, eleições estaduais não deram os resultados esperados, ela retirou a candidatura e a perspectiva da turnê pontifícia esfriou bastante.

Cristina Kirchner entre 13 indiciados por 'organização criminosa' criada para 'subtrair fundos públicos'
Cristina Kirchner entre 13 indiciados
por 'organização criminosa' criada para 'subtrair fundos públicos'
Se a visita for para os primeiros meses de 2020, o anúncio formal deveria sair com o processo eleitoral em andamento.

Mas o otimismo de uma vitória kirchnerista, ainda que como vice-presidente, está se esvaindo e também definha a perspectiva da visita.

Em pleno processo eleitoral, Cristina Kirchner e ex-ministros e laranjas respondem a processo público por infindáveis desvios de dinheiro destinado a obras públicas, coimas e subornos.

Nesse contexto o Papa Francisco falou de “manipulação do Poder Judicial visando a perseguição política”. A ex-presidente e seu séquito comemoraram essas palavras qualificando-as de “imperdíveis”, como noticiou entre outros “Clarin”.

O Papa falou num encontro com juízes latinoamericanos, e aproveitou “para lhes manifestar minha preocupação por uma nova forma de intervenção exógena nos cenários políticos a través do uso indevido de procedimentos legais e tipificações judiciárias”.

Entre eles incluiu “o lawfare que além de pôr em sério risco a democracia dos países, geralmente é utilizado para minar os processos políticos emergentes e propender à violação sistemática dos direitos sociais. (...) é fundamental detectar e neutralizar esse tipo de práticas que resultam da atividade judiciária impropria combinada com operações multimediáticas paralelas”.

O “lawfare”, ou guerra jurídica é o conceito continuamente usado pelo kirchnerismo para explicar os processos em que está indiciada a ex-mandataria. Ela o usou também em conversa com Dilma Rousseff.

Audiência para ouvir os acusados. Cristina Kirchner (no fundo) entre ex-ministros e 'laranjas' De Vido Báez e Carlos Kirchner entre outros
Audiência para ouvir acusados. Cristina Kirchner (no fundo), ex-ministros e 'laranjas'
De Vido Báez e Carlos Kirchner entre outros
Alberto Fernández, candidato a presidente escolhido por Cristina Kirchner, foi mais ameaçadoramente explícito e o usou nominalmente contra os juízes que estão analisando seus expedientes.

O “lawfare” é intensamente usado nas ditaduras de esquerda como a chinesa ou a russa, ou também as latino-americanas como a venezuelana. Mas, o pontífice não acostuma mencioná-las.

No telefonema, Schiavi pede enviar “uma mensagem a nosso amigo de Roma. (...) acredito que é o único que pode dizer algumas cosas que ponham ordem na grande frente opositora que precisamos. É o único que tem poder”, transcreveu “Clarín”.

E Valdés confirmou: “De fato, já está fazendo”.

Valdés também lamentou que não tenha influência sobre os políticos opositores: “sobre eles, ele não tem influência”.

Valdés e Schiavi debateram pelo agitador dos “movimentos sociais” muito próximo do Papa e de Cristina: Juan Grabois, líder da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP).

Eles concordaram que teria um papel positivo nesta campanha presidencial mas que  aspiraria ao ministério de Economia e promoveria o aborto.

Padres das favelas defende posição adotada pelo Papa Francisco.
Padres das favelas defende posição adotada pelo Papa Francisco.

A agrupação de “curas villeros” (“padres das favelas”) liderada pelo bispo auxiliar de Buenos Aires, Gustavo Carrara, militante nas causas da esquerda também defendeu a omissão do Pontífice e cobriu de impropérios àqueles que reclamam por sua ausência, escreveu “Clarín”.

Qualificou-os de “mentir, mentir e mentir”, de estar “longe de escutar com sinceridade e com um mínimo de honestidade intelectual”, de ser dominados pelos “próprios interesses ideológicos”, de “constante tergiversação da mensagem papal”, e outros slogans das esquerdas.

Deram a entender que seu apoio na prática às esquerdas “não é uma ideologia partidista, mas a própria essência do Evangelho e, portanto, da doutrina social da Igreja”, porém à “luz dos pobres”. Aliás, como prega a Teologia da Libertação em suas variadas formas.



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