segunda-feira, 11 de março de 2019

Caracas: de shopping de superluxo a Babel do terror

Caracas: de shopping de superluxo a Babel do terror
Caracas: de shopping de superluxo a Babel do terror
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Um prédio do tamanho de um morro se ergue numa área central de Caracas como um gigantesco caracol de cimento rodeado de favelas.

De forma helicoidal, na singularidade de sua forma e proporções alberga a mais sinistra prisão e centro de torturas e assassinatos gerido pela polícia política socialista da Venezuela, segundo se deduz de reportagem de “Clarín”.

“El Helicoide” é a sede do temido SEBIN, ou Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional. O edifico monumental encarna uma lição das mais perversas, mas paradoxalmente instrutiva, da história da Venezuela nas últimas décadas.

O tétrico prédio foi construído em volta do morro La Roca Tarpeya com 13 andares de concreto. O hoje círculo monstruoso de horrores de início foi imaginado como o primeiro shopping “drive through” da América Latina. Os clientes poderiam ir de loja em loja com seu carro.

A bonança petroleira permitia sonhos como esse, com ar de ciência ficção e sonho fantástico, como certos empreendimentos de emirados do Golfo Pérsico.

O design evoca a torre de Babel. Às 320 lojas repletas do melhor que a superabundância de petrodólares permitia trazer do mundo todo, se acrescentariam centros de exposição artística, ginásios, piscinas, kindergardens, centro “multicinema”, área com tudo para o carro e oficinas.

Haveria ascensores inclinados para percorrer os diferentes andares e o conjunto teria sua própria emissora de rádio: Radio Helicoide.



“El Helicoide” nunca foi terminado. Entre favelas e com suas apodrecidas entranhas repletas de prisioneiros da polícia secreta chavista, é um símbolo perfeito da queda aos infernos da Venezuela na maior catástrofe econômica do continente.

El Helicoide é o quartel geral da repressão  política chavista
El Helicoide é o quartel geral da repressão  política chavista
Durante anos “El Helicoide” permaneceu vazio e inconcluso. Converteu-se num antro de prostituição e drogas até virar o lar da polícia de Chávez e Maduro.

Essa mistura no local criminosos comuns com prisioneiros políticos em condições abaixo do que se pode tolerar.

A BBC News registrou a prisão do jornalista alemão Billy Six, de 31 anos.

Six cometeu o crime de informar para o exterior a sorte dos venezuelanos que fugiam para a Colômbia. Nunca cometeu nada que pudesse se aproximar a um delito.

Então, a polícia secreta acusou-o falsamente de ser membro das FARC e tirar fotos em área proibida perto do presidente Nicolás Maduro. Foi levado ao “El Helicoide” e não se soube mais nada dele.

A BBC procurou ex-prisioneiros que estiveram na casa de terror. Falou com familiares, com dois ex-guardas e pode reconstituir a vida no antro.

Um opositor de 32 anos, um dos 3.000 presos em massivas redadas contra opositores foi acusado de financiar protestos em 2014, fez revelações estarrecedoras.

Todo dia ingressavam no Helicoide ônibus repletos de vítimas das redadas, inclusive pessoas que não tinham nada a ver com as manifestações.

Lá dentro, aquilo que foi imaginado para lojas de luxo foi dividido em celas, até os banheiros e escadas já decrépitas. Numa cela de 12 por 12 metros haviam até 50 presos, consumidos pelo calor, sem janelas nem ar, sem camas, sem higiene e sem toaletes.

“As paredes estavam manchadas com sangue e excrementos”, conta a testemunha. O codinome dessa câmara era Guantánamo.

“Todo dia eram jogadas dentro pessoas cobertas de sangue, algumas amarradas, outras inconscientes”. Num estudante universitário tinham amarrado em volta da cabeça uma bolsa cheia de excrementos para que os respire.

Os ex-guardas entrevistados lembram ter visto pessoas sendo golpeadas, amarradas, suspensas a uma trave da escada pelas mãos e com os pés nus perto do chão.

Lembram do uso de baterias de carros para eletrocutar presos. “Podia ser pelo braço, pelos genitais, pela garganta ou qualquer outro ponto”.

A BBC tentou ouvir as autoridades venezuelanas, mas não obteve resposta.

Parentes choram pelos desaparecidos.
Parentes choram pelos desaparecidos.
A Humans Rights Watch também denunciou em arrepiante informe as torturas que o regime de Maduro reserva para os militares desobedientes e para seus familiares.

O relatório analisou 12 casos de 2017 e 2018 que envolveram a 32 pessoas, militares e civis acusados de conspirar contra o governo, e inclusive a seus parentes.

A maioria deles fora encarcerada pela Dirección General de Contrainteligencia Militar (DGCIM) ou pelo Servicio Bolivariano de Inteligencia Nacional (SEBIN).

As vítimas denunciaram surras brutais, asfixia, cortes com gillettes nas plantas dos pés, descargas elétricas, jejum forçado, proibição de ir ao toalete e ameaças de morte.

O vereador opositor Fernando Albán em outubro de 2018 foi jogado desde o décimo piso do inferno carcerário. O governo de Maduro disse que foi suicídio.

Com seus secretos macabros, “El Helicoide” prossegue mais ativo do que nunca a como infernal centro de confinamento de dissidentes políticos.

Conta-se que o poeta comunista chileno Pablo Neruda cantou sua arquitetura como “uma das criações mais requintadas que jamais nasceram na mente de algum arquiteto”, e que o pintor Salvador Dalí se oferecera outrora a decorá-lo.

Neruda e Dali morreram antes de Chávez, mas patentearam a afinidade da arte moderna e contemporânea com o espírito satânico marxista.

Só falta o Papa Francisco tão próximo do ditador Maduro, enviar uma benção ou um tercinho aos diretores do antro.



2 comentários:

  1. Vejam! Uma entrevista/reportagem sobre as práticas ocultistas na Venezuela.
    Venezuela está sob domínio de entidades espirituais das trevas. parte 2
    https://youtu.be/k2Mny7m07bo

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  2. Luís, o senhor poderia escrever um texto sobre o perigo de haver uma guerra na Venezuela?
    Tenho visto várias opiniões diferentes sobre o problema, mas parece que ninguém ao certo sabe o que pode acontecer.

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