segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Naufrágio da Venezuela evoca a Rússia de Lenine

Venezuela PBI cai 48% e inflação atinge 1.000.000%. Fome causa fugas em massa.
Venezuela: PBI cai 48% e inflação atinge 1.000.000%.
Fome causa fugas em massa.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Milhares de trabalhadores estão fugindo da principal empresa da Venezuela, a petroleira nacional PDVSA, outrora uma das mais ricas do mundo.

Eles abandonam empregos que já foram cobiçados, mas que não pagam mais nada por causa da pior inflação do mundo, segundo longa reportagem do jornal “The New York Times”.

Muitos fogem para a Patagônia, onde a exploração crescente de gás e de petróleo não convencional requer mão-de-obra especializada. Em Buenos Aires, um bairro recebeu o apelativo de “Palermo Caracas”, escreveu “Clarín”.

Mas os petroleiros sem especialização caem no desespero. Repete-se a patética situação das fábricas na Rússia logo após a revolução leninista: os funcionários roubam equipamentos para revendê-los fora e garantir a sobrevivência da família. É o caso especialmente de veículos, bombas e cabos de cobre.

Dezenas de gerentes foram presos, inclusive o ex-presidente da empresa. Maduro instalou na direção da PDVSA o general da Guardia Nacional, Manuel Quevedo, que não tem experiência no setor.

A poderosa empresa está parando por causa da sangria de pessoal e de equipamento. E ela é a fonte quase única (mais de 90%) dos recursos do país!



Derrame de petróleo dos tanques alaga refinaria de El Tigre.
Derrame de petróleo dos tanques alaga refinaria de El Tigre.
O presidente-ditador Nicolás Maduro foi reeleito mais uma vez em 2018, numa eleição amplamente condenada pelos governantes de todo o hemisfério.

Ele tenta resolver com decretos furiosos a fome generalizada, a devastadora carência de medicamentos e o êxodo de mais de um milhão de pessoas, número relativo apenas aos que fugiram para a Colômbia.

Isso quando a inflação projetada andava em 13.000% e o ordenado mensal de um trabalhador dava para comprar apenas um frango.

A perspectiva do FMI para 2018 é de uma inflação de 1.000.000%, noticiou “La Nación”.

Segundo “Clarín”, o presidente Maduro anunciou que eliminaria cinco zeros das notas, ele que em anos anteriores já havia eliminado muitos outros.

Um dos problemas é que, pelo fato de as notas não valerem mais nada, o povo já não faz mais uso delas notas, não se justificando carregá-las no bolso.

A produção da PDVSA afunda, os campos estão com a metade da capacidade ociosa e o sumiço de equipamentos paralisa setores inteiros.



Filas para comprar farinha de milho na cidade petrolífera de El Tigre.
Filas para comprar farinha de milho na cidade petrolífera de El Tigre.
Inúmeros processos legais entorpecem ainda mais a atividade produtiva e exportadora.

A Venezuela, que antes da revolução bolivariana distribuía gasolina praticamente de graça para toda a população, agora a importa para o consumo interno com dólares que não tem.

A PDVSA (ou o governo, pois um só existe em função do outro) deve 50 bilhões de dólares e não paga.

Maduro promete, com inversões de governos “amigos” como o russo e o chinês, aumentos de produção inatingíveis. Mas a China, que visa expandir sua hegemonia comercial, se nega a continuar lhe emprestando, tendo desistido de aguardar um pagamento futuro em petróleo.

A queda do PIB para este ano é estimada em 18%, o terceiro consecutivo de dois dígitos. O decrescimento – termo adorado pelos filósofos da revolução comuno-ecologista – acumulado nos últimos cinco anos atinge 48%.
“O pessoal está morrendo de fome”, disse Eldar Saetre, diretor executivo de Equinor, a gigante petroleira norueguesa associada à PDVSA.

Os trabalhadores contam que o seguro médico não funciona, os almoços não chegam, as instalações sofrem contínuos derramamentos de petróleo pela degradação de encanamentos, chaves e depósitos.

ônibus para transporte de funcionários do petróleo abandonados por falta de peças em Tomé.
Ônibus para transporte de funcionários abandonados por falta de peças em Tomé.
Numa delas, flagraram dois grandes tanques rodeados por um preocupante lago negro de petróleo que escapou pelas fissuras.

Fala-se de bandos criminosos que depredam, mas os operários dizem que para desmantelar os sistemas se requer um conhecimento que só operários ainda ativos e ex-empregados possuem.

“Os roubos se aceleraram. Roubam-te o carro, o cabeçote do poço. Tiram as peças, as fundem, revendem. O pessoal está muito desesperado. Podem vender o cobre para alimentar sua família”, explicou Ali Moshiri, executivo principal da Chevron para América Latina até o ano passado.

Os engenheiros fogem sem aviso prévio rumo aos EUA, Argentina, Peru, Equador, Brasil, Colômbia e Espanha e com frequência não são substituídos. E quando o são, é por amigos do governo que entendem pouco ou nada da profissão.

Ovidio Martínez, de 55 anos, se recorda do auge do petróleo. Agora chorou, enquanto falava de seu filho que abandonava o país. “Você vê que teus filhos vão embora e você não pode detê-los”, disse, tentando conter as lágrimas.



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