segunda-feira, 9 de julho de 2018

Cinco anos de pontificado: Promoção da agenda neomarxista e altermundialista dos “movimentos sociais”

Na Bolívia, o ditador Evo Morales presenteia o Papa  uma foice e martelo sobre a qual o Santíssimo Redentor está crucificado
Na Bolívia, o ditador Evo Morales presenteia o Papa
uma foice e martelo sobre a qual o Santíssimo Redentor está crucificado
José Antonio Ureta
Membro fundador da “Fundación Roma”,Chile;
membro da “Société Française pour la Défense
de la Tradition, Famille et Propriété”;
colaborador do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
e autor do livro: “A mudança de paradigma
do Papa Francisco: continuidade ou ruptura
na missão da Igreja?
Relatório de cinco anos do seu pontificado”.










Excerto do livro: “A mudança de paradigma do Papa Francisco: continuidade ou ruptura na missão da Igreja? Relatório de cinco anos do seu pontificado” Veja o texto completo no site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira



Para a doutrina católica, o comunismo é “intrinsecamente perverso”[1]. Porém, movimentos marxistas e regimes de esquerda do mundo inteiro veem no Papa Francisco um ponto de referência. 

O atual pontífice tem-se de fato mostrado muito próximo das reivindicações desses grupos ou governos. 

A despeito dos resultados desastrosos do “socialismo real” por exemplo, o martírio de muitos cristãos e a difusão da miséria e de seu caráter antinatural, Francisco tem afirmado várias vezes que o comunismo roubou a bandeira do Cristianismo na luta a favor dos pobres, dando a impressão de que se trata de uma ideia que, afinal de contas, é bem intencionada. 

E a geopolítica vaticana parece hoje cultivar um relacionamento privilegiado com regimes que da Venezuela até a China se inspiram mais ou menos diretamente no socialismo real, qualificado no pontificado de João Paulo II de “vergonha de nosso tempo” pelo então cardeal Joseph Ratzinger no célebre documento “Libertatis Nuntius”, o qual condenava a Teologia da Libertação. 




Em uma conferência de imprensa logo após sua visita ao Vaticano, o ditador cubano Raúl Castro declarou: 

“Leio todos os discursos do Papa. Se seguir assim, eu voltarei para a Igreja Católica, mesmo sendo membro do Partido Comunista.”[2] 

Simples recuperação política[3]? Ou as posições do Papa são realmente próximas do comunismo?

Eis a questão.


O Papa Francisco tem-se defendido repetidamente da acusação de ser comunista com o argumento de que se limita a defender os pobres contra as injustiças de que são vítimas. Entretanto, em diversas ocasiões, ele tem manifestado amizade por personalidades comunistas e parece julgar que o único erro do marxismo consiste no fato de querer transformar a luta dos pobres em ideologia.

Propensão a simpatizar com o comunismo



Eugenio Scalfari, ateu confesso e fundador do jornal italiano laicista La Repubblica, teve alguns encontros de diálogo com o Papa, relatados depois por ele em artigos que causaram sensação. Scalfari afirmou não ter gravado, mas apenas anotado tais conversas[4]

Após um encontro no dia 7 de outubro de 2016, ele relata o seguinte diálogo: “O senhor sonha com uma sociedade dominada pela igualdade. Isso, como o senhor sabe, é o programa do socialismo marxiano e depois do comunismo. O senhor pensa então numa sociedade de tipo marxiano?” 

Resposta do Papa Francisco: “Muitas vezes foi dito e minha resposta sempre tem sido que, em todo caso, são os comunistas que pensam como cristãos. Cristo falou de uma sociedade na qual são os pobres, os fracos, os excluídos que devem decidir. Não os demagogos, não os Barrabás, mas o povo, os pobres, tenham ou não fé no Deus transcendente, são eles que devemos ajudar para obter a igualdade e a liberdade”[5].
 
Uma jornalista do Il Messagero lhe diz: “O senhor passa por ser um Papa comunista, pauperista, populista. O Economist, que lhe dedicou uma capa, afirma que o senhor fala como Lenin. O senhor se reconhece nessas roupagens?”. 

O Papa responde: “Eu digo apenas que os comunistas roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. Tomemos Mateus 25 (...) ou olhemos as Bem-aventuranças, outra bandeira.  

Os comunistas dizem que tudo isso é comunista. Sim, claro, vinte séculos depois. Então, quando eles falam, poder-se-ia lhes dizer: mas vocês são cristãos (ri)”[6].
Papa Francisco e Evo Morales vestindo uma jaqueta
com desenho do sanguinário 'Che' Guevara.
Santa Cruz de la Sierra, 09-07-2015
Em uma entrevista com cinco jovens belgas, reafirmando seu amor pelos pobres, afirmou: 

“Precisamente por isso, dois meses atrás, uma pessoa disse: ‘Esse Papa é comunista!’ Não! Essa é uma bandeira do Evangelho, não do comunismo. É a pobreza sem ideologia (...) Basta ler o Evangelho. O problema é que ao longo da história, algumas vezes essa atitude para com os pobres tem sido convertida em ideologia”[7]

Num livro-entrevista com o intelectual francês Dominique Wolton, ele repetiu: “Disseram-me uma vez: ‘Mas o senhor é comunista!’ Não. Os comunistas são os cristãos. Foram os outros que nos roubaram a bandeira!”[8]
Durante uma entrevista com o vaticanista Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, de Turim, à pergunta “que efeito lhe faz ver-se definido como ‘marxista’?”, respondeu: 

“A ideologia marxista é errada. Mas na minha vida tenho conhecido muitos marxistas bons como pessoas, e por isso não me sinto ofendido”[9] .
De fato, em entrevista com Marcelo López Cambronero e Feliciana Merino, autores de Francisco, o papa manso, ele teceu muitos elogios a Esther Ballestrino de Careaga, uma exilada paraguaia comunista que foi seu chefe em um laboratório e que o introduziu no pensamento político, ajudando-o a ter uma consciência clara de que o capitalismo é essencialmente injusto[10].
Por sua vez, no livro Conversaciones con Jorge Bergoglio, de Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, o Papa, falando de sua juventude, declara: 

“Minha cabeça não estava posta apenas nas questões religiosas... Lia Nuestra Palabra y Propósitos, uma publicação do partido comunista, e encantavam-me todos os artigos de um de seus conspícuos membros [...] Leónidas Barletta”[11].
E no já citado livro-entrevista com Dominique Wolton, perguntado se depois da infância e da adolescência tinha encontrado mulheres que o marcaram, respondeu, referindo-se a Esther Ballestrino: 

“Sim. Houve uma que me ensinou a pensar a realidade política. Ela era comunista. (...) Ela me dava livros, todos comunistas, mas ela me ensinou a pensar a política. Devo tanto a esta mulher. (...) Devo muito a esta mulher, porque é a mulher que me ensinou a pensar. (...) Esta mulher realmente me ensinou a pensar”[12]
O crucifixo marxista blasfemo, símbolo da aliança do comunismo bolivariano e o pontificado de Papa Francisco
O crucifixo marxista blasfemo, símbolo da aliança
do comunismo bolivariano e o pontificado de Papa Francisco

“A desigualdade é a raiz dos males sociais”

De fato, para o Papa Francisco o ideal cristão é o de uma sociedade sem classes sociais. 

A um menino da Fábrica da Paz que lhe perguntou: “Papa, segundo a tua opinião, seremos um dia todos iguais?”, ele respondeu: “A esta pergunta se pode responder de duas maneiras: somos todos iguais — todos! — mas não nos reconhecem essa verdade, não nos reconhecem essa igualdade e por isso alguns são mais — digamos a palavra, mas entre aspas — ‘felizes’ que os demais. Mas isso não é um direito! Todos temos os mesmos direitos! Quando não se vê isso, essa sociedade é injusta. Não vive segundo a justiça.”[13]


Na sua exortação apostólica Evangelii gaudium, na seção “Não à desigualdade social que gera violência”, o Papa Francisco afirma que “enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarraigar a violência”, e acrescenta que “isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reação violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e econômico é injusto na sua raiz”. 

E ainda que “a desigualdade social gera uma violência que as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais”[14]

Em resumo, para ele, “a desigualdade é a raiz dos males sociais[15], destoando da doutrina social católica, a qual ensina que a raiz de todos os males (inclusive dos males sociais) é o pecado, e que a igualdade essencial dos homens — todos igualmente filhos de Deus e herdeiros do Céu — não se opõe à desigualdade acidental resultante de seus variados talentos, diligência, educação e condição[16].

Promoção da Teologia do Povo e da Teologia da Libertação


Não é de estranhar que sendo favorável a uma sociedade sem classes, o Papa Francisco simpatize com a Teologia da Libertação, sobretudo na sua versão argentina, a qual é conhecida como “Teologia do Povo”[17] e foi idealizada por dois de seus mestres, os sacerdotes Lucio Gera[18] e Juan Carlos Scannone[19]

Papa Francisco com o ditador do Equador Rafael Correa,
hoje procurado pela Interpol
A única diferença com as outras versões dessa teologia errônea é que, em lugar de atribuir o papel de força propulsora na construção do “Reino” a agrupações políticas ou sindicais de esquerda — em geral laicistas —, a corrente argentina da Teologia da Libertação tem uma matriz gramsciana e um viés terceiro-mundista/peronista, atribuindo esse papel revolucionário ao próprio povo latino-americano em luta contra o imperialismo anglo-saxão[20] e reconhecendo no dinamismo de suas crenças religiosas o maior potencial revolucionário[21].

A preferência pela Teologia do Povo argentina levou o Papa Francisco a “reabilitar” o fundador de sua matriz — ou seja, a Teologia da Libertação —, o sacerdote Gustavo Gutiérrez, recebendo-o em audiência privada no Vaticano apenas seis meses após sua eleição[22]

Ele também deu um prefácio de próprio punho e letra ao livro Pobre para os pobres. A missão da Igreja, escrito pelo cardeal Gerhard Müller, discípulo do Pe. Gutiérrez, o qual contém uma colaboração deste último. 

Na ocasião de sua apresentação, o Pe. Federico Lombardi, então porta-voz da Santa Sé, declarou que a Teologia da Libertação “entrou agora definitivamente na normalidade da vida da Igreja”[23]

Antes disso, a partir de setembro de 2013, o Osservatore Romano já tinha começado a dedicar amplo espaço aos escritos de Gustavo Gutiérrez[24].
NOTAS

[1] “O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã. E, se alguns, induzidos em erro, cooperassem para a vitória do comunismo no seu país, seriam os primeiros a cair como vítimas do seu erro” (Pio XI, encíclica Divini Redemptoris, n° 58, https://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19370319_divini-redemptoris.html)
[3] Detalhes sobre o significado do encontro entre o Papa Francisco e Raúl Castro encontram-se em Armando Valladares, “Francisco, el nuncio y el tirano”, 12-05-2015, in http://www.cubdest.org/1506/c1505castrorom.htm
[4] Após a primeira entrevista com Eugenio Scalfari, o Padre Lombardi, na época porta-voz do Vaticano, disse que as palavras que apareciam entre aspas na Repubblica eram uma reconstituição de memória, pelo que não todas as expressões referidas podiam ser atribuídas com segurança ao Papa. Ocorre que Scalfari, num colóquio internacional de jornalistas, contou que antes de publicar a entrevista enviou-a ao Papa e obteve a aprovação para a publicação de seu secretário, fato jamais desmentido.  Mais ainda, as frases controvertidas foram todas retranscritas ipsis litteris e sem nenhuma modificação no Osservatore Romano, no livro Entrevistas e conversações com os jornalistas, publicado pela Livraria Editrice Vaticana, e no site do Vaticano onde estiveram on-line vários meses, com o que órgãos oficiosos da Santa Sé têm dado crédito à verossimilhança de seu conteúdo. É digno de nota que o Papa Francisco nunca desmentiu formalmente as palavras a ele atribuídas por Eugenio Scalfari, apesar da perplexidade expressa por muitos fiéis, que legitimamente interpretam seu silêncio como uma aprovação: qui tacet consentire videtur.
[8] Dominique Wolton, Politique et société : Pape François, rencontres avec Dominique Wolton, ed. L’Observatoire, Paris, 2017, p. 227.
[11] Sergio Rubin y Francesca Ambrogetti, El Papa Francisco. Conversaciones con Jorge Bergoglio, p. 50.
[12] Dominique Wolton, Politique et société : Pape François, rencontres avec Dominique Wolton, ed. L’Observatoire, Paris, 2017, pp. 376-377 e 379.
[15] Ibid.
[16] Ensina Leão XIII: “Ninguém duvida que todos os homens são iguais uns aos outros, tanto quanto se refere à sua origem e natureza comuns, ou o fim último que cada um deve atingir, ou os direitos e deveres que são daí derivados. Mas, como as habilidades de todos não são iguais, como um difere do outro nos poderes da mente e do corpo, e como há realmente muitas dessemelhanças de maneiras, disposição, e caráter, é extremamente repugnante à razão esforçar-se por confinar todos dentro da mesma medida, e estender completa igualdade às instituições da vida civil” (Encíclica Humanum Genus, http://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_18840420_humanum-genus.html).
[17] Para uma visão sumária da origem e propostas da Teologia do Povo, ver a entrevista com Juan Carlos Scannone in http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/542642-o-papa-francisco-e-a-teologia-do-povo-entrevista-especial-com-juan-carlos-scannone
[18] Em testemunho de simpatia e reconhecimento pelo seu trabalho, Jorge Mario Bergoglio, então cardeal-arcebispo de Buenos Aires, fez enterrar o Pe. Lucio Gera na cripta da catedral de Buenos Aires.
[19] “Juan Carlos Scannone é jesuíta, foi professor de diversas universidades latino-americanas e europeias, incluindo a Pontifícia Universidade Gregoriana. É ex-reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, da Universidade del Salvador. É considerado o maior teólogo argentino vivo. Discípulo de Karl Rahner, participou como protagonista da evolução do intenso debate pós-conciliar na América Latina” (http://www.ihu.unisinos.br/184-conferencistas/574652-prof-dr-juan-carlos-scannone-argentina).
[20] “Embora não tome a luta de classes como ‘princípio hermenêutico determinante’ da compreensão da sociedade e da história, [a Teologia do Povo] dá lugar histórico ao conflito — mesmo de classe —, concebendo-o a partir da unidade prévia do povo. Desse modo, a injustiça institucional e estrutural é compreendida como traição a este por uma parte do mesmo, que se converte assim em antipovo”, afirma Juan Carlos Scannone na entrevista citada em nota anterior.
[21] Na entrevista com Dominique Wolton, Francisco explica a diferença: “Nos anos 1980 havia uma tendência à análise marxista da realidade, mas depois foi renomeada como a ‘teologia do povo’. Não gosto muito do nome, mas é assim que a conheci. Ir com o povo de Deus e fazer a teologia da cultura. Há um pensador que o senhor deveria ler: Rodolfo Kusch, um alemão que vivia no nordeste da Argentina, um muito bom filósofo e antropólogo. Ele me fez compreender uma coisa: que a palavra ‘povo’ não é uma palavra lógica. É uma palavra mítica. Não se pode falar de povo logicamente, porque seria somente fazer uma descrição. Para compreender um povo, compreender quais são os valores desse povo, é preciso entrar no espírito, no coração, no trabalho, na história e no mito de sua tradição. Esse ponto está verdadeiramente na base da teologia chamada ‘do povo’. Quer dizer, ir junto com o povo, ver como se exprime” (op. cit., pp. 47-48). Comentando essa passagem, o vaticanista Sandro Magister acrescenta um dado interessante: “Kusch se inspirou na filosofia de Heidegger para distinguir entre ‘ser’ e ‘estar’, qualificando com a primeira categoria a visão racionalista e dominadora do homem ocidental e, com a segunda, a visão dos povos indígenas latino-americanos em paz com a natureza que os rodeia e animados justamente de um ‘mito’” (http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/2017/09/18/il-mito-del-pueblo-francesco-svela-chi-glielo-ha-raccontato/).’
[22] Ademais, em agosto de 2014, o Papa Francisco derrogou a suspensão a divinis do exercício sacerdotal dos sacerdotes Ernesto Cardenal, Fernando Cardenal, Miguel d'Escoto e Edgard Parrales, ministros “liberacionistas” do governo sandinista da Nicarágua, a qual havia sido imposta por João Paulo II em 1984. (http://www.periodistadigital.com/religion/opinion/2017/06/27/religion-iglesia-opinion-saturnino-rodriguez-la-teologia-de-la-liberacion-iii-teologia-de-la-liberacion-en-la-actualidad-futuro-esperanzado-papa-francisco.shtml).


Continua no próximo post: Papa Francisco salvando esquerdas marxistas sem oxigênio

Excerto do livro: “A mudança de paradigma do Papa Francisco: continuidade ou ruptura na missão da Igreja? Relatório de cinco anos do seu pontificado” Veja o texto completo no site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira


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