segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Violência, inflação, fome e êxodo: Venezuela hoje, nós amanhã?

Os hospitais se degradaram a um estado miserável
Os hospitais se degradaram a um estado miserável
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Os venezuelanos pensavam que “nós não nos tornaríamos Cuba quando chegou Hugo Chávez”.

Mas aquela data de 2 de fevereiro de 1999 marcou uma viragem trágica na história do país que abalou o otimismo que até então o tomava por inteiro e os jogou no abismo socialista.

Vinte e cinco anos depois Chávez, o militar de esquerda inspirado em teólogos jesuítas e o seu movimento – hoje representado pelo seu sucessor, Nicolás Maduro – afundariam o país numa miséria comparável à que implantou o regime marxista cubano.

A violência desenfreada, a inflação exorbitante, a repressão sanguinária, a grave escassez de alimentos e medicamentos degradaram a vida de milhões de venezuelanos numa e forçaram a muitos a um êxodo em massa sem igual em nosso século.

“Uma das grandes calamidades do século 21 na América Latina”, afirma Juan Negri, diretor dos cursos de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade Torcuato Di Tella (UTDT, Argentina), referindo-se à situação atual na Venezuela.

A crise humanitária desmanchou o sistema de saúde. A população, atolou na pobreza generalizada, e depende do sistema público de saúde. Em algumas áreas não há sequer gasolina suficiente ‒ no país de maiores reservas de petróleo do mundo! ‒ para viajar até aos centros médicos.

Até 2000, os hospitais recebiam doações privadas para sobreviver, mas o chavismo no poder as fez desaparecer para se apropriar de seus fundos, que logo foram rapinados.

“O sistema de saúde está em coma, como tendo passado por uma guerra civil”, define Huníades Urbina, vice-presidente da Academia Nacional de Medicina da Venezuela, em diálogo com “La Nación”.

Médicos cubanos num posto de saúde, Guarenas, Venezuela
Médicos cubanos num posto de saúde, Guarenas, Venezuela
A crise profunda de água potável afeta 90% da população e como diz um médico venezuelano que migrou para os EUA: “se não há água não há sala de cirurgia”.

Hospitais do interior do país recebem água durante uma a duas horas por dia, recolhem-na e a armazenam para cirurgias de emergência.

Não há substituição de instrumentos médicos. “Não temos reagentes, injeções, analgésicos, nem gazes”, descreve o diretor da área pediátrica de um hospital do interior.

“Não há diálise, não há transplante de rim, não há medicamentos oncológicos suficientes, não há transplante de medula óssea”, lamenta. “Os pacientes crônicos morrem como passarinhos”, diz Urbina.

O Inquérito Hospitalar Nacional nos 40 principais centros de saúde de referência a nível nacional mostrou haver déficit a nível nacional de 70% no radiodiagnóstico: 80% dos laboratórios públicos não estão operacionais; faltam 50% dos leitos hospitalares.

O Hospital Infantil JM de Los Ríos de Caracas, que em 1987 contava com 420 leitos, hoje conta só com 80 em estado operacional.

Faltam insumos básicos
Faltam insumos básicos
Num grande hospital de Caracas das seis salas cirúrgicas que possuía “só sobrou uma para emergências e outra que é usada como sala de parto”.

A cirurgia dos doentes se faz como em tempo de guerra. Os elevadores não funcionam nem para levar pacientes à sala de cirurgia. Se os médicos levam material próprio, são acusados de roubo e podem ser presos.

O ordenado mensal de um médico residente é de perto de 30 dólares (150 reais aprox.) e um especialista de cerca de 60 (R$ 300 aprox.), diz um médico de Caracas. Abaixo do salário mínimo (cem dólares, ou R$ 500 aprox.).



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