segunda-feira, 29 de maio de 2017

Brasil espectador de uma peça onde os atores parecem querer desmontar o teatro

Maio 2017: esquerdistas incendeiam alguns Ministérios em Brasília. Foto G1
Maio 2017: esquerdistas incendeiam alguns Ministérios em Brasília. Foto G1
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





No momento em que escrevo, na Internet está ecoando o último episódio da crise que devora o Brasil.

No momento que terminar, pode ser que tudo tenha mudado.

Oxalá que para melhor. Porém, infelizmente, é mais provável que seja para pior.

E quando o leitor, espectador desta crise como eu, abrir este post, tal vez tenha a mesma sensação de estar num imenso país cuja classe político-midiática-sindical-empresarial conduz erraticamente a algo que dificilmente não será uma caos pior.

Assim, sem ver o fundo do túnel, se é que se pode ver algo, não há o quê prenuncie algo animador.

É para baixar os braços? Desanimar? Há solução? Se há, qual é?

Um bom amigo me passou um artigo. Enquanto o lia sentia que tudo em mim renascia. Tudo se esclarecia. A esperança voltava a brilhar. A força subia.



Quando cheguei no fim, minha decisão estava tomada.

Se no País, houve pelo menos um brasileiro – digo um só – que foi capaz de interpretar a alma nacional e apontar o caminho desse modo, o Brasil vencerá.

Aconteça o que acontecer!

Quero compartilhar esse artigo.

Mas, caro leitor, não se espante!

Ele é de quase exatos 80 anos atrás!

Sim de 30 de maio de 1937! 80 anos! Quando o Brasil discutia como é que seria a sucessão do presidente, que aliás não aconteceu pelo golpe de Getúlio!

Mas ele retrata o fundo mais fundo dos problemas brasileiros. E esses há pelo menos 80 anos continuam sendo os mesmos.

Tal vez se o jovem e insigne autor, que fora eleito deputado da Constituinte, então em vertiginosa ascensão, tivesse sido ouvido, e não enxotado pelo progressismo católico, hoje tudo seria diverso.

Pensei em incluir no post alguma glosa traçando os paralelismos entre os fatos, os nomes e as questões do ano 1937 com os de 2017.

Supérfluo. Sei que o leitor inteligente perceberá logo o que ficou para trás e no que é que o passado se assemelha ao presente.

E perceberá argutamente o fino fundo do que está escrito

Eis o artigo sem mais:


"Minha Vida Pública": uma prodigiosa fonte de informação exclusiva  para compreender a história da RCR no Brasil e no mundo.  828 páginas inéditas disponível na Livraria Petrus
"Minha Vida Pública": uma prodigiosa fonte de informação exclusiva
para compreender a história da RCR no Brasil e no mundo.
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Oitenta anos antes o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira esclarecia:


Não é nossa intenção tratar, neste artigo, da sucessão presidencial, estabelecendo um cotejo, sob o ponto de vista católico, entre os candidatos que se apresentam para disputar a suprema magistratura da República.

Queremos tão somente, à margem dos acontecimentos e sem tomar posição neles, fazer um comentário que se relaciona com os mais altos interesses da vida política do Brasil.

Há duas espécies de atitudes perante a política: a de ator e a de espectador.

Atores são todos os que, direta ou indiretamente, cooperam na preparação dos acontecimentos políticos de que o Brasil está sendo teatro.

Uns desempenham o papel de figuras centrais da tragédia – ou da comédia, se quiserem – representando os papéis mais importantes.

Outros, são meros comparsas que passam rapidamente pelo palco, para desempenhar uma missão pequena e obscura.

Finalmente outros nem aparecem no palco. São os inúmeros empregados que, nos bastidores, levantam o pano, acendem as luzes e cooperam para a manutenção da ordem nas “coulisses” [bastidores].

Na vida política, esta categoria de gente é representada pelos políticos de 3ª importância, que querem furiosamente algum emprego ou alguma pequena suserania municipal e que, sem aparecer no cenário da política, não deixam de ter certa influência, nos bastidores, sobre o curso da representação.

Espectadores são os que não tem interesses pessoais relacionados com a política e que, portanto, não cooperam com a representação da tragicomédia.

Assistem de longe e do alto. Não lhes preocupa, de maneira nenhuma, o formigar das rivalidades e o choque das vaidades nos bastidores.

Só o que lhes desperta interesse é a representação correta da peça e a fiel interpretação dos papéis de cada ator.

Não nos interessam, neste artigo, os primeiros.

Estão com as vistas deslumbradas pela claridade do palco, e com a atenção monopolizada pelos acontecimentos da cena.

São incapazes de vislumbrar o que sente o público distante que, na meia obscuridade, os contempla... e os julga.

O que nos interessa sobremaneira são os espectadores. Porque eles, afinal de contas, são o Brasil.

E os atores do palco não são em geral senão inofensivas marionetes que oscilam do centro para a direita ou para a esquerda, não ao sabor de convicções que lhes faltam, mas ao impulso de dedos quer calçados ora com luvas verdes, vão desenvolvendo gradualmente um jogo que pode parecer moderno, mas que na realidade é muito velho.

Que atitude vem tomando este público em matéria de sucessão presidencial?

A dizer com franqueza, a primeira impressão que se nota, em todos os brasileiros imparciais, é de asco.

Não asco pela pessoa dos candidatos, a quem não queremos negar qualidades.

Mas de asco profundo pela instabilidade das atitudes políticas, pela incoerência flagrante e despudorada entre atitudes da maior parte de seus sequazes, hoje, ontem e anteontem.

A bem dizer, serão pouquíssimas as correntes políticas que não se encontram, agora, em uma situação que condenariam formalmente há dois ou há três anos atrás.

Se, no calor da Revolução de 30 ou de 32, um profeta tivesse descrito de antemão as variações que sofreriam as alianças e as hostilidades que então existiam, todo o mundo se teria rido dele, acoimando-o de louco.

Porque absolutamente não pareceria possível a ninguém que os políticos brasileiros – sobre os quais já não havia, entretanto, grandes ilusões – dessem a seus ressentimentos e a suas simpatias a inconsistência, a mutabilidade, a futilidade de brigas de meninas de colégio; que fossem tão pequeninos na vaidade e tão imensos na ambição, tão corajosos na ganância e tão tímidos no cumprimento do dever.

Esta nota dolorosa não é privativa de uma das correntes políticas. Encontra-se, pelo contrário, em quase todas.

A tal ponto que um vespertino desta capital já chegou a proclamar que, realmente, a corrente política que ele defende é incoerente, porque a política brasileira é feita de incoerências, mas que a incoerência de seus adversários não é menor. No que tem toda a razão.

* * *

Qual é o resultado de tudo isto?

Não é difícil percebê-lo: agonizam nossas instituições, desprestigiam-se os princípios que até ontem eram convicção política unânime (boa ou má, não vem a pelo discuti-lo) dos brasileiros, e decaem irremediavelmente no conceito público quase todos os homens da geração passada, que o Brasil vinha, se não admirando, ao menos tolerando na administração do País.

Como consequência deste formidável desgaste de homens, de instituições e de ideias, uma grande transformação se prepara.

O Brasil aí está, como matéria amorfa, para ser plasmada pela corrente de homens que tenha maior sucesso na tarefa de conquistar o poder em nome de ideias novas.

Significa isto, em outros termos, que o Brasil está no momento em que deverá tomar nova forma.

Se esta forma obedecer à concepção da esquerda, o Brasil será não mais o Reino de Nossa Senhora Aparecida, mas uma China ou um México qualquer.

Se a forma for plasmada por mãos direitinhas, erguer-se-á ante nós o receio do estado totalitário, com o qual a Igreja é incompatível.

Pobre Brasil! Navegando por um mar revolto, parece que está fadado a naufragar de encontro a um destes dois escolhos extremistas: Berlim ou Moscou.

Isto, se não se quiser submergir inteiramente no lodaçal do liberalismo.

Muita gente dirá: entre dois escolhos, convém optar pelo menos mau.

Mas nós perguntamos: não será a mocidade mariana o braço forte com que Nossa Senhora dotou seu Reino na hora do perigo, para derrubar um e outro escolho, e realizar no Brasil a política do grande Dollfuss: uma política tendo por ideal o Catolicismo, como norma de agir o Catolicismo, e como solução para todos os problemas o Catolicismo?

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “A solução Mariana”, Legionário, N.º 246, in www.pliniocorreadeoliveira.info)


Um comentário:

  1. Que bom seria se as inteligências trabalhassem para descobrir o antidoto para o veneno!

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