domingo, 6 de setembro de 2015

Ditadura para combater hoje o vulcão;
e amanhã mais ditadura contra a seca,
a enchente ou o aquecimento global !

Rafael Correa usa fumarada passageira de vulcão
para visar confisco de terras e cerceamento
da liberdade de expressão



No Equador, o majestoso e temido vulcão Cotopaxi está fumegando com colunas de gases e poeira de até oito quilômetros de altura!

Trata-se do mais alto vulcão do mundo (5.897 metros) e é um dos potencialmente mais violentos e destruidores. Porém, não causou nenhum abalo relevante desde 1877.

O Cotopaxi fica a 45 quilômetros de Quito, a capital equatoriana. Quando morei nessa cidade, sempre sonhei em escalá-lo, pois o acesso é fácil e a expedição paga o esforço. Muitos turistas fazem isso, apoiados numa base científica anti-sísmica e refúgios, e chegam até a pequena cratera onde a lava ainda brilha pela noite.

Quase todos os dias sua majestade o Cotopaxi espirrava a seu modo, e eu perguntava: “O que foi?”. A resposta era invariável e, no meu entender, desinteressada: “Ah! O Cotopaxi...”

O povo equatoriano convive, aliás, sobranceiramente com os vulcões. Ele se lembra com espírito religioso das formidáveis explosões do passado e das maravilhosas intervenções salvadoras atribuídas a Nossa Senhora e a seu Divino Filho. E toca a vida tranquilamente entre aqueles colossos eternamente nimbados de neve, nuvens... e fumaça!

Mas o presidente bolivariano Rafael Correa mostrou-se tomado de inusual e suspeito pânico a propósito das últimas “fumaradas” do Cotopaxi. E, ditatorialmente, censurou as informações a respeito.

“Os equatorianos só poderão se informar sobre o assunto através dos boletins oficiais emitidos pelo ministério coordenador da segurança, com interdição de difusão de qualquer informação não autorizada feita por um meio de comunicação público ou privado, ou por meio das redes sociais”, diz seu decreto, vibrado em céu sereno e citado por Le Monde.

De um momento para outro a censura foi instalada! O presidente agitou o espantalho de “boatos dos quais qualquer um solta uma enormidade no Twitter e provoca o pânico”. Seu colega bolivariano da Venezuela, não teria feito melhor.

Correa parecia não conhecer seu país, e o ministro da Comunicação, Fernando Alvarado, moderou a draconiana censura.

O vulcão Cotopaxi perto de Quito foi mero pretexto
Os meios informativos equatorianos, constantemente vilipendiados por Correa, denunciaram a manobra. “A ambiguidade do decreto outorga ao governo um poder enorme, inclusive para ditar o que é que os cidadãos não podem falar”, reagiu César Ricaurte, diretor da Fundação Andina para a Observação e o Estudo da Mídia – Fundamedios.

“Pela primeira vez foi introduzida uma legislação, e por decreto, com poder para regulamentar as redes sociais, e isso é muito perigoso”, acrescentou.

De fato, Correa enfrenta uma vertiginosa perda de prestigio. Enormes manifestações populares contra seu socialismo aconteceram nas grandes cidades antes e depois da visita do Papa Francisco, que tentou apaziguar os protestos. As redes sociais são o meio preferido pelos descontentes para se exprimirem e se organizarem.

Para Diego Cornejo, diretor da Associação Equatoriana de Editores de Jornais, essa censura é “desproporcionada e inoportuna”. A coincidência com os protestos populares é mais do que suspeita.

Correa é geralmente acusado de propender para um socialismo ditatorial. Ele revida com impropérios seus opositores, que ele chama de “mentirosos”, doentes mentais, “sicários da escrita”, e outros epítetos de ditador sul-americano fora de si.

Correa também decretou um “estado de emergência” que lhe permite “suspender os direitos constitucionais que garantem a inviolabilidade dos domicílios e as liberdades de circulação, de reunião e de comunicação”, segundo o site francês Mediapart.

O estado de exceção também lhe permite reforçar o controle sobre o exército, que poderá ser enviado a qualquer hora em apoio das equipes de auxílio, as quais até o momento não tiveram muita coisa para fazer.

Segundo Sylvie Brunel, professora de Geografia na Universidade da Sorbonne, França, “em nome da urgência e do perigo, o decreto permite a remoção autoritária dos moradores em volta do vulcão, e a expropriação das fazendas grandes e pequenas que há tempos o governo está tentando com o pretexto de criar imensos reservatórios de água potável para garantir o fornecimento de Quito”.

Visita do Papa Francisco foi explorada para abafar grande surto de oposição anti-socialista.
Visita do Papa Francisco foi explorada para
tentar abafar grande surto de oposição anti-socialista.
Os franceses conhecem a história: durante a Revolução Francesa, para “salvar a pátria” de perigos mais ou menos imaginados, instalou-se o Terror, que se dedicou a guilhotinar os opositores.

O golpe ditatorial de Correa poderia inspirar prefeituras de tendência bolivariana, como a petista de São Paulo. E, com alguma adaptação, o governo peronista-bolivariano argentino, às voltas com chuvas e inundações colossais na região do Rio de la Plata.

“Língua não tem osso”. Ditador tem muita língua, e o que lhe serve de pretexto para lutar contra o vulcão, serve também para lutar contra a seca, as enchentes ou o aquecimento global!


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