quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Esquerdas argentinas acéfalas, e latinoamericanas na corda bamba, após a morte de Nestor Kirchner

A inesperada morte do ex-presidente e deputado argentino Nestor Kirchner criou um vazio no cerne da máquina política que conduzia o país vizinho pelas sendas do populismo esquerdista.

“Até o último momento ele se encarregou de tornar evidente que era ele que exercia realmente o poder e não sua esposa, a presidente Cristina Kirchner.



“Ela nunca recusou o fato, nem jamais procurou gerar um espaço próprio de poder, nem mesmo meramente simbólico”, escreveu o comentarista Rosendo Fraga no “La Nación”.

“A Argentina estava vivendo uma situação anômala. (...) a falta de Kirchner deixa a sensação política de que falta o Presidente e é como se apresentasse a incógnita de como vai agir o vice-presidente”, acrescentou Fraga.

Popularidade do "casal presidencial" atingiu limite perigoso

Para o diário “El Mundo” de Madri, este é o “fim do sonho da dinastia Kirchner”. E para um número incalculável de argentinos ordeiros e trabalhadores abre-se uma fimbria de esperança.

Ao vazio, soma-se a incerteza: o temperamental ex-presidente concentrava as decisões como déspota esclarecido e não tolerava ninguém perto que pudesse contradizé-lo ou até sugerir algo mais inteligente.

Até poucas horas atrás preparava sua muito desejada reeleição como presidente. Agora, após se apresentar ante Deus, não deixou ninguém capacitado para substituí-lo, seja na candidatura à presidência, seja na condução efetiva da heterogênea e ambígua agrupação partidária ‒ a peronista ‒ que ele acaudilhava.

O efeito de sua desaparição será pouco relevante na UNASUL cuja secretaria geral ocupava, mas cuja influencia real não vai muito além da verborragia esquerdista de seus mais agitados membros.

E não são só as esquerdas argentinas que ficam sem ponto de referência.

Annus horribilis: Lula abraçava os Castros e dissidente Zapata morria de fome

A repentina morte encaixa-se num “annus horribilis” para as esquerdas continentais.

2010 começou com a eleição do presidente Sebastián Piñera no Chile que interrompeu quase 50 anos de governos democraticamente eleitos de esquerda ‒ moderada ou radical.

Passaram-se dois dias e aconteceu o que parecia um delírio de maluco: a família Kennedy perdeu a cadeira de senador por Massachussets que “possuía” havia 57 anos. E, para pior, perdeu para um obscuro candidato direitista que preanunciava a rumorosa assunção do Tea Party.

Zelaya na embaixada brasileira: saiu sem pena nem glória
Mais oito dias, e Zelaya abandonava a embaixada brasileira em Honduras. Fracassara o golpe inspirado por Chávez e respaldado pela quase totalidade dos governos populistas latino-americanos, Obama, ONU, OEA, UE, e ainda muitos poderosos organismos mundiais.

Em junho, na Colômbia o ministro de Defesa Juan Manuel Santos foi consagrado nas urnas por um país que pedia a altos brados mão forte contra a narco-guerrilha marxista das FARCs, íntima aliada dos presidentes populistas do continente.

Na Colômbia, o anseio popular foi atendido em alguns episódios, sobre tudo no fulminante operativo que abateu o comandante máximo militar do grupo terrorista, o “Mono Jojoy” em setembro.

E ainda no mesmo mês, o eleitorado venezuelano votou majoritariamente pelos candidatos oposicionistas deixando o proto-ditador Hugo Chávez sem ânimo de discursar para seus desanimados apoiadores.

Os presidentes Correa e Morales gradualmente foram se apagando no noticiário, o presidente Lugo luta contra um câncer, e o presidente uruguaio brilha pela ausência do cenário internacional.

Pouco restou do búnker do "Mono Jojoy"
Poucos dias depois do fiasco eleitoral de Chávez e contrariando a torcida organizada de certa mídia e institutos de pesquisa, a candidata do PT não levava a presidência no primeiro turno.

Pior ainda, no debate pelo 2º turno os candidatos precisaram compactuar com a pressão dos ambientes religiosos católicos e evangélicos. Adotaram, ou prometeram adotar, posições que outrora eram tidas como exclusivas da direita, e até da extrema-direita.

Acreditava-se que essas posições haviam sido banidas definitivamente do cenário político nacional. Fotógrafos e chargistas tiveram muito trabalho fotografando os candidatos em visita a Nossa Senhora Aparecida, beijando tercinhos e criancinhas, sublinhando sua até então desconhecida profunda vida de piedade e sua enraizada formação escolar católica.

Foi assim que no contexto latino-americano, a repentina chamada a Deus do ex-presidente argentino não poderia ter acontecido em pior momento psicológico para as esquerdas continentais.

Antes, muitos sorrisos. E agora?
Sentiram-no bem os presidentes Lula e Chávez que foram dos primeiros a apresentar suas condolências à viúva subitamente convocada a assumir o poder presidencial.

Entre os primeiríssimos pêsames mereceram destaque os do presidente Obama. Ele sem dúvida precisou sacrificar algo de seu precioso tempo devoradoramente consagrado a gerenciar a catástrofe eleitoral que até os mais amigos julgam iminente, irreversível e esmagadora.

O que virá depois?

Dependerá, com mais força ainda após a morte do ex-presidente platino, dos resultados das eleições no Brasil em 31 de outubro e dos EUA em 2 de novembro.

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Um comentário:

  1. Derepente todo mundo virou católico fervoroso. Espero que o maior golpe ao esquerdismo seja dado aqui no Brasil, nesse domingo.

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